Publicações: Um livro que vai das «pequenas procuras» de um motor de busca ao valor das «grandes perguntas»

Padre José Tolentino Mendonça rejeita propostas pastorais transformadas em «conversa de surdos»

Lisboa, 08 out 2017 (Ecclesia) – O livro “O pequeno caminho das grandes perguntas” do padre e poeta José Tolentino Mendonça é um “elogio ao papel das perguntas” na vida de cada pessoa, cujo “coração é um motor de busca”.

“O homem é um buscador. Ontologicamente somos seres à procura. Há uma curiosidade enorme. O nosso coração é um motor de busca”, disse o autor madeirense em entrevista à Agência ECCLESIA.

“Demasiadas vezes estamos focados em obter repostas e isso faz-nos passar por cima das perguntas, não damos o tempo necessário para que elas se façam ouvir”, considera o vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa (UCP).

“Esse é que é o perigo:  demitirmo-nos das procuras fundamentais ficarmos com as pequenas procuras, onde o google nos pode levar e não aquelas onde o nosso coração nos pode conduzir”, sublinhou.

Para o padre José Tolentino Mendonça, o “exercício fundamental é reforçar o humano”.

“O que nos define, o que é a origem da nossa felicidade, o que nos salva são perguntas, é o habitar de uma pergunta que não deixa de morder, roer, iluminar o nosso coração”, afirmou.

Numa entrevista sobres os ensaios publicados no livro “O pequeno caminho das grandes perguntas”, publicado pela Quetzal, o padre Tolentino Mendonça referiu também que as perguntas do quotidiano – “como estás?”, “tudo bem?” – de cada pessoa são apenas um “formalismo da ritualidade de um encontro”.

“Se parássemos e tivéssemos a coragem de dar a resposta verdadeira, se assumíssemos como uma pergunta e não como um protocolo de convivência rápida, a qualidade geral da nossa vida ampliava-se”, afirmou.

“A maior parte dos nossos encontros são um puro esbarrar, passar numa tangencial e não um verdadeiro encontro, não uma epifania, uma revelação do que o outro é ou um aprofundamento da relação que potencia o caminho que vamos fazer”, acrescentou o autor.

O padre José Tolentino Mendonça referiu-se ainda ao papel da religião, afirmando que “tem de sair do seu espaço tradicional”, falar uma gramática, um código “que seja legível por todos” e abandonar a “lógica de barricada”, da “trincheira”.

“O medo é que a nossa proposta pastoral se torne, na sociedade contemporânea, numa conversa de surdos ou um clube para iniciados”, considerou o vice-reitor da UCP.

“O que dizemos em chave pastoral não é compreensível por grande da população de hoje”, considerou.

Para o sacerdote madeirense, o padre “não é aquele que dá respostas”, mas um "mistagogo", que ajuda no iniciar de um caminho de "aproximação ao mistério”, acrescentou.

O padre José Tolentino Mendonça referiu-se também à oração, um “lugar de mãos vazias”, de perguntas, e disse que, no “caminho autêntico da fé, as respostas não são importante, o importante é habitar a pergunta”.

“É preciso passar do Deus necessário, do Deus que me é útil, que me dá jeito acreditar, do Deus que me convém porque me safa dos meus problemas, para um Deus desejável”, sublinhou.

Na entrevista, emitida no programa 70×7 deste domingo, o padre e poeta madeirense sugeriu também que se abandonem respostas rápidas, “soluções de manga que a sociedade oferece nos vários domínios”.

"Mais não são do que perpetuação de um equívoco”, concluiu.

A versão integral da entrevista ao padre José Tolentino Mendonça pode ser vista no canal do youtube da Agência ECCLESIA.

PR

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