Historiador Luís Correia de Sousa quer aproximar obras do século XIII do grande público
Lisboa, 07 jan 2016 (Ecclesia) – O historiador Luís Correia de Sousa publicou a obra ‘Sacra Pagina’ dedicada ao início das bíblias portáteis do século XIII onde inclui textos e imagens, iluminuras, de coleções portuguesas sobre manuscritos que não estão acessíveis ao grande público.
“Considerei que era uma oportunidade não só de estudar mas divulgar este património. Inicialmente estava pensado apenas a segunda parte deste livro, a descrição, adaptação dos manuscritos do século XIII”, explicou o autor à Agência ECCCLESIA.
Quando surgiu a oportunidade da Editora Paulus publicar ‘Sacra Pagina’, Luís Correia de Sousa acrescentou uma primeira parte para mostrar ao público em geral o que “encerra um destes manuscritos”, em termos de património artístico.
“É um programa iconográfico completo. Uma iluminura para cada um dos livros da Bíblia. Era assim que eram feitos os mais ricos, cada um dos livros iniciava com uma iluminura, uma cena bíblica, com o conteúdo do texto”, desenvolve o investigador do Instituto de Estudos Medievais, da Universidade Nova de Lisboa.
Esta tipologia de manuscritos marca o início das bíblias portáteis no século XIII, “não é exagerar que elas cabiam no bolso, algumas mais pequenas que as atuais”.
“Hoje é estranho falar em bíblias portáteis porque são todas. Até ao século XIII eram muito raros os manuscritos que tivessem os livros todos da Bíblia, a norma era estarem dispersos por vários volumes e cada um podia ter 70 centímetros de altura e pesar 15 quilos”, explica.
Para além da “grande mudança” de reunir os livros todos num único manuscrito portátil, o historiador destaca que deixou de ser uma publicação rara e “passou a bestseller”, “o livro mais copiado no século XIII, produziram-se aos milhares”.
Este “fenómeno estranho e curioso” está associado a outros fatores como o desenvolvimento das grandes universidades europeias, “grandes centros produtores de Bíblias”; o surgimento das ordens mendicantes – Dominicanos e Franciscanos -, e as classes “mais favorecidas” também passaram a ter acesso a estes manuscritos.
Segundo o historiador, que compôs uma Bíblia a partir das iluminuras das 35 bíblias existentes, estes manuscritos são uma “oportunidade” de a pegar no livro Sagrado e ver o que “encerra em termos patrimoniais e artísticos”, para além da riqueza dos textos.
“Nas iluminuras temos conjunto fabuloso de obras de arte do século XIII como não existe em nenhum outro suporte em Portugal. Permite perceber evolução da história da arte Ocidental na Idade Média porque muitos temas nascem ai”, acrescenta Luís Correia de Sousa.
O investigador considera que hoje a Bíblia perdeu um pouco o interesse do público em geral, “um afastamento histórico talvez por ignorância”.
“Há muito a ideia que a Bíblia é para a religião mas é quase a base da cultura ocidental porque antes de ser texto era leitura, oralidade, experiências de vida, quase como elemento simbólico que modela a civilização ocidental”, comenta.
A publicação surge de um projeto de pós-doutoramento de Luís Correia de Sousa que antes deste projeto estudou Iconografia Musical Medieval
“Percebi com outros colegas que as bíblias portáteis que existem em Portugal nunca tinham sido estudadas. Os manuscritos estão dispersos em várias bibliotecas nacionais e é um património precioso para conhecer”, esclarece o historiador.
O livro ‘Sacra Página’ mostra manuscritos de coleções nacionais que em regra estão “guardados em cofre”, em condições muito especiais de conservação, humidade, luz, “acessíveis apenas aos investigadores”.
HM/CB