«A Brotéria sente a responsabilidade de não ignorar este assunto tão vital no momento presente da vida da Igreja», afirma padre Francisco Mota
Lisboa, 14 abr 2023 (Ecclesia) – A revista Brotéria dedica a edição do mês de abril aos abusos sexuais na Igreja católica, com três artigos sobre o tema, refletindo sobre “a realidade”, as vítimas e a “gestão de crise”.
“A Brotéria sente a responsabilidade de não ignorar este assunto tão vital no momento presente da vida da Igreja. Os artigos de José Maria Brito SJ e de Eduardo Jorge Madureira Lopes são tentativas de contributos para entender de forma rigorosa e serena a complexidade deste assunto. Este editorial pretende também acrescentar algo a tudo o que tem vindo a ser dito e escrito”, pode ler-se no texto de abertura assinado pelo padre jesuíta Francisco Mota.
O responsável pelo centro cultural assinala a diferença entre falha e pecado, assumindo que apenas quando a “Igreja” perceber que a forma como lidou com esta questão “constitui matéria de pecado e não de falha” será possível “desenhar estruturalmente novos caminhos para a vida da Igreja”.
“A reforma que a Igreja portuguesa precisa não serão memoriais, mas sim mudanças estruturais no seu funcionamento e edificação”, reconhece.
O jesuíta Francisco Mota escreve ainda não serem as “soluções apressadas” a forma de resolução do problema, uma vez que se trata de um “caminho longo e lento” para que se possa “discutir de modo explícito quais são os bispos, quais são os superiores religiosos, quais são os sacerdotes, quais são os leigos, quais são os colaboradores das obras da Igreja que desempenharam mal os seus papéis e porquê”, evidenciando que o “pecado eclesial” envolve “o corpo da Igreja”.
Eduardo Jorge Lopes escreve que “seria conveniente” que “não fossem os bispos ou os que em vez deles falam, a ditar a agenda dos media”, assumindo ser necessário “lidar com a informação considerada adversa e estar preparado para o fazer”.
«O que faremos à voz das vítimas?» é o título do artigo que o padre José Maria Brito assina, onde explica ser necessário conjugar “um reconhecimento da credibilidade dos testemunhos” apresentado no relatório da Comissão independente para o Estudos dos Abusos Sexuais na Igreja, ao desejo de as escutar para um retrato completo, “acompanhados por uma reflexão critica” sobre o “exercício do poder e da vivência do ministério ordenado na Igreja”.
A edição de abril apresenta ainda um texto sobre as «Baixas qualificações e desenvolvimento do sistema educativo», de Rodrigo Queiroz e Melo, e José Eduardo Franco escreve sobre a ação católica e o apostolado dos leigos.
O jesuíta Bruno Nobre aborda a «evolução do cristianismo à luz do pensamento de Teilhard de Chardin» e pode também ler-se uma análise, do padre António Júlio Trigueiros, a alguns textos do poeta João Maia, jesuíta que viveu a Casa de Escritores, e cujo poema «Sabedoria» integra o poemário 2023.
A revista de Cristianismo e Cultura «Brotéria» é editada desde 1902, tendo, em 2020, iniciado a sua publicação em formato digital, acompanhada por nova apresentação gráfica.
LS