Publicações: Padre José Miguel Cardoso apresenta o cristianismo através de dez pares de sapatos

«Se é verdade que nos devemos orgulhar do humano ter colocado os pés na lua, não menos devemos maravilhar por conhecer um Deus que colocou os pés na terra», afirma o autor de «Os sapatos de Deus. Para um decálogo do Cristianismo»

Lisboa, 16 set 2025 (Ecclesia) – O padre José Miguel Cardoso, sacerdote português que trabalha no Vaticano, escreveu o livro ‘Os Sapatos De Deus’, que, “em suma, é um caldo Knorr teológico”, onde reflete sobre dez pares de calçado, se “hoje Jesus enviasse em missão”.

“Parte-se da questão dos sapatos porque uma das características do humano, além de ser a sua filiação, a sua mortalidade, a sua corporeidade, é também a questão da mobilidade. E os sapatos permitem-nos esta metáfora forte de explicar, servindo-nos dele, esta relação entre as palavras não só importantes para o Cristianismo, mas também para a própria humanidade”, explicou o autor, esta terça-feira, 16 de setembro, em entrevista à Agência ECCLESIA.

O padre José Miguel Cardos, sacerdote da Arquidiocese de Braga, acrescenta que o Cristianismo, “como dizia São Paulo, centra-se numa única palavra, Jesus”, do qual derivam todas as outras, mas “todas são também necessárias para explicar este nome”, por isso, associar uma palavra ao sapato “é uma forma de evitar que algumas palavras caiam no desuso ou desapareçam do próprio dicionário do mundo”.

“Se é verdade que nós nos devemos orgulhar do humano ter colocado os pés na lua, não menos devemos maravilhar por conhecer um Deus que colocou os pés na terra.”

O autor da obra ‘Os sapatos de Deus. Para um decálogo do Cristianismo’, que trabalha no Dicastério para a Cultura e Educação da Santa Sé (Santa Sé) no Vaticano, dedica o seu novo livro “a todos os sapatos” e explicou que quando Jesus fala em ‘sandálias’, “era a linguagem do seu tempo”, o Evangelho é o mesmo, mas “o mundo mudou” e é preciso “adaptar ou reinterpretar essa mesma mensagem”.

E se hoje Jesus enviasse em missão, o padre José Miguel Cardoso escolheu “dez pares de sapatos”, e começa com as ‘sapatilhas’ na ressurreição, “porque há aquela corrida na manhã de Páscoa, de Pedro e João ao túmulo”, e uma “breve referência” ao adolescente Carlo Acutis, o novo santo da Igreja Católica, canonizado no dia 7 deste mês.

“A questão da fé, com os ‘sapatos de cerimónia’, antigamente as pessoas tinham uns sapatos para o dia de domingo, uns sapatos do dia do Senhor; os ‘sapatos rotos’ da caridade, uma das missões da Igreja é “esse cuidado com os mais necessitados”; os ‘sapatos de criança’, porque é uma das grandes metáforas da esperança”, explicou.

Seguem-se os ‘chinelos de quarto’ com a família, que é “um dos grandes pilares” da Doutrina Cristã, as ‘botas de trabalho’ são a Igreja, “esta grande comunidade alargada que tem este trabalho pastoral de anunciar”, depois “o silêncio” com os ‘chinelos de praia’, “porque é tempo de férias, tempo de escuta”, e as ‘galochas’, a questão da ecologia, sendo os “dois sapatos finais”, os ‘sapatos de palhaço’, com o humor, e os ‘sapatos de mulher’ com “aquela que é um modelo de todos, Maria”.

“Tendo este livro um substrato dogmático, que é a base dele, visa, sobretudo, clarificar, ‘pôr os pontos nos is’, apresentar uma certa suma daquilo que é a teologia em si; em suma, o livro é um caldo Knorr teológico, uma síntese, pois, como dizia o filósofo David Hume, os erros da filosofia são ridículos, mas os erros da religião são perigosos, e temos de ter muito cuidado”, desenvolveu o padre José Miguel Cardoso

Nos 1700 anos do Concílio Ecuménico de Niceia, que a Igreja está a celebrar, o padre José Miguel Cardoso observa que “Niceia tinha os desafios do seu tempo”, e, hoje, o cristianismo tem alguns desafios que “não pode abdicar de os enfrentar”, como o “desafio metodológico diante da agressividade do positivismo científico”, “um certo desafio cultural no chamado pós-cristianismo”, e há também “um grande desafio espiritual, com o chamado neopelagianismo”.

“Hoje temos o risco de uma teologia low cost, uma teologia a baixo preço, sem esforço, sem militância, sem praxis, sem efeito na vida comum das pessoas”, desenvolveu na entrevista ao Programa ECCLESIA, transmitido hoje, na RTP2.

Com prefácio do cardeal José Tolentino Mendonça, ‘Os Sapatos De Deus – Para um decálogo do Cristianismo’, do padre José Miguel Cardoso, da Paulus Editora, foram escritos na “continuidade” da ‘Anatomia da Fé’ que o autor publicou em 2024, onde pensou “a fé a partir do corpo humano, de vários elementos, uma espécie de introdução ao Cristianismo”.

PR/CB/OC

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