Ana Catarina André e Sara Capelo recordam vida dedicada aos pobres, presos e doentes, de um «homem que faz poentes com classes sociais mais elevadas»
Lisboa, 03 mai 2023 (Ecclesia) – As autoras da mais recente biografia sobre o padre Cruz, Ana Catarina André e Sara Capelo, destacaram a “vida cheia” e dedicada aos outros do sacerdote português, com fama de santidade, que descobriram para além da “devoção popular” habitual.
“O padre Cruz atravessa épocas históricas muito distintas, desde os finais do século XIX até meados do século XX. Depois, além da sua devoção e da sua atenção aos pobres, aos presos, e aos doentes, é também um homem que faz poentes com classes sociais mais elevadas, que converte muita gente, que traz muita gente à Igreja. É uma figura muito interessante”, disse hoje a jornalista Ana Catarina André, em entrevista à Agência ECCLESIA.
A jornalista da Rádio Renascença acrescentou que para si, e acredita que também para com Sara Capelo, a coautora de ‘Padre Cruz. O Santo do Povo’, “foi muito surpreendente” descobrir uma figura que é “muito mais do que a devoção popular” a que se está habituado.
“Estamos muito acostumados a ver a figura velhinha, se calhar nas medalhas das nossas avós, a ouvir falar num bairro em Lisboa. Não estamos muito acostumados de facto a mergulhar naquilo que foi a vida de um homem e foi uma vida muito cheia. São 89 anos que podiam não ter chegado tão longe”, acrescentou Sara Capelo.
Segundo a consultora de comunicação, o padre Cruz viveu de uma forma “muito intensa e de grande dádiva”, o que é “muito interessante perceber”, como também curioso perceber que a fama de santidade já era atribuída quando “tinha 26, 27 anos”.
Francisco Rodrigues da Cruz, conhecido popularmente como padre Cruz, nasceu em casa, na localidade de Alcochete (Diocese de Setúbal), a 29 de julho de 1859, quarto filho de Manuel da Cruz e Catarina de Oliveira da Cruz, tinha uma saúde débil, “foi batizado em casa” e só um mês depois é que foi à igreja de São João Batista, cuja pia batismal gostava de beijar.
Concluídos os estudos secundários, seguiu para Coimbra, onde se formou em Teologia, na Universidade de Coimbra, em 1880, ordenando-se sacerdote em 1882; entrou para a Companhia de Jesus a 3 de dezembro de 1940; morreu a 1 de outubro 1948, no Largo do Caldas (Lisboa). |
O padre Cruz, recorda Ana Catarina André, “é um homem que percorre o país e que está constantemente em viagem”, tirando os períodos em que esteve doente “e foram vários”, apanhava o comboio, “o meio que mais utilizava para se deslocar”, e ia do Minho ao Algarve, foi à Madeira e aos Açores, “onde esteve no fim de vida e foi recebido de forma apoteótica”.
“Onde o chamassem, o padre Cruz ia, numa atitude de desprendimento muito grande”, acrescenta a jornalista, destacando que a sua “paróquia era o país inteiro”, uma expressão da sua parceira de escrita.
Neste contexto, Sara Capelo refere que o sacerdote Jesuíta “era um homem absolutamente sem medo” num Portugal onde, “desde o final do século XIX, se sentia anticlericalismo”.
“A partir da República tudo se tornou mais complicado e o padre Cruz surgia de batina, sem medo, consegue um salvo-conduto do Ministro da Justiça Afonso Costa que permitia andar pelo país e dava-lhe a possibilidade de construir estas pontes”, lembrou a consultora de comunicação.
A nova biografia sobre Francisco Rodrigues da Cruz – ‘Padre Cruz. O Santo do Povo’ -, com a chancela da ‘Oficina do Livro’, chegou às livrarias portuguesas no dia 11 de abril.
Ana Catarina André explicou este livro nasceu de um artigo que escreveu em 2019, e achou que fazia sentido convidar a Sara Capelo, com quem escreveu um livro sobre peregrinos de Fátima, em 2017, para este “trabalho de pesquisa longo e demorado”, sobre uma pessoa que teve “uma vida cheia de 89 anos”.
O cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, presidiu, no dia 17 de dezembro de 2020, à sessão de encerramento do processo diocesano supletivo de beatificação do Padre Cruz, na igreja de São Vicente de Fora; seguindo o processo seguiu para a Congregação para a Causa dos Santos, na Santa Sé.
“Há quem diga que, se o Papa olhar para o processo provavelmente fará do Padre Cruz santo, porque há uma identificação próxima entre eles”, acrescenta Sara Capelo.
Ana Catarina André sublinha, por sua vez, o “desprendimento”, a atenção às periferias” do sacerdote português, “uma colagem grande com o Papa Francisco” e a sua atenção aos que estão de fora, nas margens.
O processo de canonização do Padre Cruz teve início a 10 de março de 1951 e a fase diocesana decorreu até 18 setembro de 1965; mais tarde, foi nomeado um novo Tribunal, em setembro de 2009; o Patriarcado de Lisboa informou que, entre março e maio de 2011 foram “ouvidos os testemunhos sobre as virtudes heroicas do Servo de Deus”; a Comissão Histórica entregou a de outubro de 2019, os documentos e a sua análise crítica.
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