«Teve como foco central a educação, a ciência e a cultura como forma de evangelização» – Maria do Rosário de Sousa
Lisboa, 21 mai 2025 (Ecclesia) – A professora universitária Maria do Rosário de Sousa escreveu o livro ‘Os frutos do silêncio. Pedro Poveda: Educação, ciência e cultura’, o sacerdote espanhol, pedagogo e mártir, que foi canonizado pelo Papa João Paulo II, em maio de 2003.
“Pedro Poveda Castroverde foi um sacerdote católico que dedicou toda a sua vida à proteção dos mais pobres, dos mais desfavorecidos, dos mais humildes, e teve como foco central a educação, a ciência e a cultura como forma de evangelização”, começou por explicar Maria do Rosário de Sousa, em entrevista à Agência ECCLESIA.
A autora do livro ‘Os frutos do silêncio. Pedro Poveda: Educação, ciência e cultura’ salienta que para o sacerdote espanhol, que foi morto no início da Guerra Civil de Espanha (1936), evangelizar passava por “retirar da miséria as pessoas que não tinham cultura”, a percentagem de analfabetos no país “rondava os 70, 80, 90%”, e ainda um padre jovem, “muito, muito novo, enfrentou um lugar onde ninguém queria entrar”, ao ser colocado no “bairro altamente marginalizado” de Las Cuevas do Guadix (Granada), “longe de toda a população da cidade”.
“Revolucionou, de certo modo, aquele bairro de Las Cuevas. As Missões da Quaresma, que é uma coisa impressionante, feitas por ele, foram momentos de reflexão, de diálogo e de abertura ao povo, em que reúne as pessoas, e vinham dos mais diversos sítios, desde Las Cuevas de Guadix, até aos grandes da terra, porque a mensagem começou a passar, e de tal ordem que eram aglomerado de pessoas que se chegava para ouvir aquele jovem sacerdote, com tanta devoção, com tanta fé”, desenvolveu.
Maria do Rosário de Sousa, professora da Universidade Católica Portuguesa (UCP), recorda que São Pedro Poveda Castroverde encontrou “um pequenino” que “chorava” porque tinha fome, então deu-lhe de comer, “levou outros tantos para casa e levaria muitos, certeza absoluta, porque a fome e a miséria eram abundantes naquela região”.
“Dava-lhes de comer, funda escolas, funda cantinas e resolve estudar aquele povo na sua essência e vê que a alfabetização daquelas pessoas passa exatamente, primeiro, por lhes dar a alimentação que precisam para comer, depois a cultura como alimento para poderem crescer, para poderem evoluir, e para poderem sair da situação de pobreza em que se encontram”, acrescentou.
Segundo a entrevistada, “as mulheres também foram objeto de estudo” e da ação do padre Pedro Poveda que “começa a grande obra educativa” em Guadix, a Obra Teresiana, mas consolida-a em Covadonga (Astúrias), nos picos da Europa, para onde foi transferido porque “a própria Igreja não aceita que um jovem sacerdote seja ousado, põe as pessoas a ler, a estudar, a trabalhar”.
“Ele era elevadíssimo, muito avançado para o seu tempo, e entendia que as mulheres deviam trabalhar, deviam ter uma ocupação, e deviam ter uma dignidade, a sua dignidade como pessoas humanas. Por isso, fundou as escolas, ateliês, onde as mulheres já podiam trabalhar; reúne professores e educadores, não fica metido nas montanhas, mas entra na Universidade de Oviedo, faz o curso de professor e começam a fundar as academias, centros pedagógicos, fruto tudo da oração, do silêncio, da meditação, porque ele entende que Deus lhe pede isso”, desenvolveu a autora, no Programa ECCLESIA, transmitido esta terça-feira, 21 de maio, na RTP2.
Maria do Rosário de Sousa assinala que a dignificação da mulher “era a grande aposta” do padre Pedro Poveda Castroverde e, “curiosamente”, as academias e centros pedagógicos que criou para homens e para mulheres, só das mulheres é que “passado pouco tempo, proliferam por toda a Espanha”.
O livro ‘Os Frutos do Silêncio – Pedro Poveda, Educação, ciência e cultura’, tem nove capítulos e foi publicado em dezembro de 2024 pela Paulinas Editora, a professora Maria do Rosário Sousa destaca também as entrevistadas realizadas a vários membros da Igreja Católica, como ao cardeal D. Carlos Osoro Sierra, então bispo de Madrid, à diretora-geral da Instituição Teresiana, e bispos e padres de Portugal, como os bispos eméritos D. Januário Torgal ferreira e D. António Taipa.
Pedro Poveda Castroverde nasceu em Linares (Jaén), no sul de Espanha, em 1874 e morreu em Madrid, em 1936, no contexto da Guerra Civil de Espanha foi detido na sua residência, no dia 27 de julho, “depois de ter celebrado a sua celebração eucarística, foi detido e conduzido ao martírio”; foi canonizado pelo Papa João Paulo II, a 4 de maio de 2003, também na capital espanhola.
LS/CB/OC
O padre Pedro Poveda Castroverde fundou a Instituição Teresiana (IT) em 1911, em Espanha, que foi acolhida e reconhecida pela Igreja Católica como carisma e aprovada como universal, sendo uma Pia União, pelo Papa Pio XI, pelo Breve Inter frugíferas, a 11 de janeiro de 1924.
“Em Portugal temos experiências fantásticas vindas pela Instituição Teresiana, nos anos 70, nomeadamente o método de ensino personalizado; após a morte dele a Instituição Teresiana queria dar continuidade ao seu trabalho, e fazer perpetuar todas estas ideias, todos estes horizontes, e fundou em Madrid um instituto pedagógico, ‘Somos Águas’, é uma grande inovação”, salientou Maria do Rosário Sousa. A professora universitária, que “quando era mais jovem” esteve também nesse instituto, “que formou e transformou, num momento de renovação educacional em Portugal, e na Espanha”, com métodos e metodologias “inovadores no ensino e na educação”. Em 2024, a Instituição Teresiana celebrou o seu centenário com uma presença em 30 países de quatro continentes; os seus membros estão em Portugal, desde 1945, em diferentes campos de missão, como residências universitárias, colégios, na docência, formação de formadores, saúde, pastoral e áreas sociais. A Associação Privada de Fiéis de Direito Pontifício e com Personalidade Jurídica, com diversas associações, nomeadamente a Associação Primária, constituída por mulheres que se dedicam com plena disponibilidade, e em celibato, à missão da IT; e as Associações ACIT formadas por mulheres, homens, casais e jovens, participando da mesma missão, com diferentes modalidades de compromisso. |