No Concílio de Niceia para além do Credo, que a Igreja Católica professa há 1700 anos, fixou-se «a data da Páscoa»
Lisboa, 04 jun 2025 (Ecclesia) – O coordenador do livro ‘O Primeiro Concílio Ecuménico – Niceia 325: Memória e herança’ explicou que apresentam “vários olhares” e tornar acessíveis aos leitores “textos fundamentais” deste acontecimento, que procurou “concórdia dentro da própria Igreja e do império”.
“O contexto tem a ver com uma situação interna, a Igreja de Alexandria, onde surgiram, por volta do ano 319, 320, uma disputa, um debate, centrado sobretudo em duas figuras, o bispo local, Alexandre de Alexandria, e Ário, de onde vem o Arianismo, à volta de uma questão fundamental da doutrina do Credo cristão que é que relação entre Deus e a segunda pessoa da Santíssima Trindade, o filho Jesus Cristo”, explicou frei Isidro Lamelas, esta quarta-feira, dia 4 de junho, em entrevista à Agência ECCLESIA.
O professor de Teologia da UCP acrescenta que a questão sobre a “relação entre o pai e o filho”, existirem duas divindades”, Ário considerava que “houve uma geração, o pai é maior que o gerado, o filho, gerado no sentido criado”.
O imperador Constantino tentou intervir, num primeiro momento com um enviado especial, “Ósio de Córdoba, com uma carta escrita”, que ainda se pode ler, mas “não tendo resultado resolve convocar, pela primeira vez na história, todos os bispos da Oikomene”, “de todas as Igrejas do mundo habitado, conhecido”, palavra que não tem o significado atual do diálogo entre as Igrejas Cristãs.
Frei Isidro Lamelas explica que Constantino decidiu intervir porque o imperador romano era, “a partir de 324, o único senhor de todo este tal mundo”, e considerava-se com direito e até com poderes também no âmbito religioso, mas a sua preocupação é fundamentalmente política, “quer manter a unidade da concórdia do povo, a Unidade do Império, e a unidade da fé era fundamental”.
Sobre a questão de um só Deus em duas pessoas, o entrevistado enumera que a primeira solução no Concílio Ecuménico de Niceia foi “o Credo, que é uma resposta clara às teses arianas”.
“Hoje, no Credo, dizemos gerado significa não criado, não é uma criatura. A segunda solução, que é a que vai fazer correr mais tinta, mais discussão, é a palavra que nós dizemos ‘consubstancial’, isto é, da mesma natureza, da mesma substância, essência de Deus. Essa solução acabou por ser muito polémica, sobretudo porque, por um lado, não era considerada uma expressão bíblica, ainda hoje temos essa sensação; por outro lado, a questão não era só teológica, não era só filosófica, não era teórica, era também uma questão de concórdia dentro da própria Igreja e do império”, desenvolveu o frade franciscano.
O coordenador da obra ‘O Primeiro Concílio Ecuménico – Niceia 325: Memória e herança’ destaca que nesse encontro, na atual Turquia, “aconteceu muita outra coisa”, para além do Credo, que a Igreja Católica professa há 1700 anos, e “uma das mais importantes a data da Páscoa”, que foi outro tema de “discussão forte nessa altura”, sobretudo entre as Igrejas do Oriente e do Ocidente.
“Concordou-se que tinha que ser sempre ao domingo, em alguns casos não acontecia, e que fosse no primeiro domingo da lua nova da primavera. Após a lua nova da primavera fazia-se o cálculo, normalmente com umas semanas antes, ou até meses, os bispos dirigiam as chamadas ‘cartas festais’, em que anunciavam a data da Páscoa do próximo ano”, acrescentou frei Isidro Lamelas.
Na atual Turquia realizaram-se os primeiros Concílios da história da Igreja – Niceia, Constantinopla, Éfeso, Laodiceia.
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