Publicações: Livro-entrevista de Bento XVI chega a Portugal

«Últimas conversas» abordam crises no Vaticano, renúncia ao pontificado e futuro da Igreja

Lisboa, 16 mar 2017 (Ecclesia) – O livro-entrevista ‘Últimas conversas’, de Bento XVI, acaba de chegar a Portugal, com reflexões do Papa emérito após a sua renúncia ao pontificado, em 2013, explicando que esta foi uma decisão amadurecida, que não vê como um “fracasso”.

“Talvez a governação resoluta e clara, bem como as decisões que têm de ser tomadas, não sejam o meu forte. Neste aspeto, sou de facto mais professor, alguém que pondera e reflete sobre os assuntos espirituais”, sublinha, numa passagem da obra, editada em Portugal pela D. Quixote.

O Papa emérito percorre vários temas do seu pontificado, em colaboração com o jornalista alemão Peter Seewald, com quem já tinha trabalhado em 2010 para o livro-entrevista ‘Luz do mundo’.

“Não me posso considerar um falhado. Durante oito anos prestei o meu serviço”, sustenta.

Bento XVI anunciou a sua renúncia ao pontificado a 11 de fevereiro de 2013 e está a manter desde então uma vida de recolhimento, no Vaticano, surgindo esporadicamente em público para acompanhar cerimónias presididas por Francisco ou receber homenagens.

O Papa emérito admite que o pontificado teve “momentos difíceis”, por exemplo, “no escândalo da pedofilia e no disparatado ‘caso Williamson’, ou também no ‘escândalo Vatileaks’”, mas considera que “em geral foi também um período em que muitas pessoas despertaram de novo caminho para a fé e houve também uma enorme movimentação positiva”.

Bento XVI confirma que escreveu “o texto da renúncia”, apresentada durante um encontro com cardeais, no Vaticano, e diz que não decidiu por causa da “pressão dos acontecimentos” ou numa atitude de “fuga”.

Antes da decisão, precisa, "ninguém" o tentou "chantagear", algo que o próprio não teria "permitido".

“Também não é verdade que estivesse desiludido ou algo do género”, prossegue.

Em relação ao ‘Vatileaks’, em que diversos documentos pessoais de Bento XVI foram “roubados” pelo seu mordomo pessoal e publicados mais tarde na imprensa, o Papa emérito reforça a ideia de que não pensou renunciar nesse momento.

“Não podemos, como eu já disse, ir embora na altura da tempestade”, declarou.

Em relação ao seu sucessor, Bento XVI volta a deixar palavras de apreço pela atenção que Francisco lhe tem dedicado desde o primeiro momento, e confessa que não esperava ver o cardeal Jorge Mario Bergoglio como Papa.

O Papa alemão vê o seu sucessor como homem da “reforma prática” com capacidade de levar por diante “ações de caráter organizativo”.

“Ninguém esperaria que fosse ele. Eu conheço-o, naturalmente, mas não tinha pensado nele. Neste sentido foi uma grande surpresa”, refere, mostrando-se “feliz” com o atual pontífice.

O Papa emérito admite que recebeu indicações de um “grupo” de pressão homossexual no Vaticano, “de quatro, talvez cinco pessoas”, que entretanto foi “desfeito”.

Em relação ao pontificado, entre 2005 e 2013, admite que foi “um fardo” em que foi ajudado, e diz é preciso ser “conservador” e “reformador” ao mesmo tempo.

“Há que renovar, e foi por isso que tentei levar por diante, a partir de uma reflexão sobre a fé. Ao mesmo tempo, também é preciso assegurar a continuidade, não deixar que a fé acabe”, explica.

Bento XVI fala ainda da forma como encara a morte, preparando-se para “ultrapassar o último exame diante de Deus”.

“Foi sendo cada vez mais evidente para mim que Deus, Ele próprio, não só não é, digamos, um governante poderoso e uma autoridade distante, mas é Amor e ama-me”, confessa.

OC

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Agência ECCLESIA

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