«Infância de Jesus», que encerra trilogia assinada pelo Papa, fala em interpretação teológica de factos verificáveis, como caso da estrela de Belém
Lisboa, 21 nov 2012 (Ecclesia) – O livro final da trilogia de Bento XVI sobre ‘Jesus de Nazaré’, que hoje chega às bancas, aborda a representação dos primeiros anos de vida de Cristo nos evangelhos como a sua “verdadeira história”.
“Os dois capítulos da narrativa da infância em Mateus não são uma meditação expressa sob a forma de histórias, antes pelo contrário: Mateus narra-nos verdadeira história, que foi meditada e interpretada teologicamente”, escreve o Papa, no volume intitulado ‘A infância de Jesus’.
A obra sustenta, por isso, a historicidade da representação tradicional do nascimento de Cristo, como a sua localização em Belém, pequena localidade da Cisjordânia.
Bento XVI diz não ver como se possa apoiar a ideia de que esse dado representaria apenas “uma afirmação teológica e não histórica”, criticando assim os teólogos que apontam como local de nascimento de Jesus a cidade de Nazaré, na Galileia, onde viria a viver mais tarde.
“Se nos ativermos às fontes, fica claro que Jesus nasceu em Belém e cresceu em Nazaré”, escreve.
A respeito do anúncio do nascimento de Jesus, que é colocado entre os anos 7-6 a.C., o Papa apresenta uma reflexão sobre a expressão “paz na terra aos homens por ele amados”, comentando mesmo a tradução da Conferência Episcopal Portuguesa e sugerindo antes o uso da expressão “os homens do seu agrado”.
O Papa lembra que nos evangelhos não se fala de animais, ao drecrever o presépio, mas destaca que a iconografia cristã preencheu esse espaço com as figuras do burro e da vaca, que são popularmente ali apresentadas.
“Nenhuma representação do presépio prescindirá da vaca e do burro”, acrescenta.
Sobre o episódio da adoração dos magos, que marca várias tradições da quadra natalícia, Bento XVI começa por elogiar a “inquietação interior” que os fez pôr-se a caminho e classifica estas personagens como “antecessores, precursores, indagadores que desafiam os tempos”.
O livro debate a existência da “estrela” que é referida na Bíblia e, a esse respeito, Papa cita autores bíblicos, teólogos da antiguidade, tábuas cronológicas chinesas, Kepler e outros astrónomos antes de afirmar que “a grande conjunção de Júpiter e Saturno no signo zodiacal de Peixes, nos anos 7-6 a.C. parece ser um facto confirmado”.
“Aquilo que na grande perspetiva da fé é uma estrela de esperança, na perspetiva da vida quotidiana constitui inicialmente apenas causa de transtorno, motivo de preocupação e temor. É que Deus perturba a nossa comodidade diária”, acrescenta, numa análise teológica sobre o fenómeno astronómico.
Bento XVI afirma que estes relatos evangélicos abordam acontecimentos históricos que foram “teologicamente interpretados pela comunidade judaico-cristã” e pelo evangelista Mateus, precisando que essa é também a sua “convicção”.
Sobre o massacre dos inocentes, relatado por São Mateus, o Papa admite que não há qualquer referência fora da Bíblia ao facto, mas sublinha que a “maldade” de Herodes faz com essa falta de alusões “não prove que tal delito não tenha sucedido”.
A obra chega a Portugal pela mão da Princípia, que a edita nas versões impressa, eletrónica e áudio.
O livro tem uma tiragem inicial de mais de um milhão de exemplares em oito línguas (italiano, francês, inglês, espanhol, alemão, português [europeu e do Brasil], croata, polaco), estando previstas traduções em 20 idiomas.
OC