Cardeal-patriarca fala numa «obra notável»
Lisboa, 30 mai 2018 (Ecclesia) – D. Manuel Clemente afirmou que o livro ‘Bispos e Arcebispos de Lisboa’ é “uma obra notável” e destacou os 400 anos em que os cristãos viveram “sob o domínio árabe”, no atual território português.
“[Os autores] dão um panorama muito, muito claro e circunstanciado do que foi a comunidade cristã de Lisboa ao longo de tantos séculos e de situações tão diferenciadas mas com muita precisão histórica, muita informação e muita seriedade”, disse o cardeal-patriarca de Lisboa à Agência ECCLESIA, durante a apresentação da obra na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa.
D. Manuel Clemente destaca que, curiosamente, o que é porventura “mais inédito” são as “referências à Igreja de Lisboa no período em que esteve sob domínio árabe”, um longo período do século VIII ao XII.
“O autor desse capítulo demonstra que a comunidade cristã permaneceu, até com períodos de algum florescimento, embora efetivamente as fontes não deem nenhum nome de bispo”, desenvolveu, sobre o período moçárabe.
O livro, que chegou ao público esta segunda-feira, foi escrito por académicos e especialistas das diversas épocas que se debruçaram sobre os ‘Bispos e Arcebispos de Lisboa’ do século IV ao século XVIII.
Neste contexto, D. Manuel Clemente realçou que muitos bispos e arcebispos estiveram noutras dioceses portuguesas, antes de Lisboa, pelo que através deles se chega “à história de Portugal no seu conjunto”.
“Tantos deles ocuparam posições centrais na nossa história coletiva, daí que esta obra seja do maior interesse para nos conhecermos e nos reconhecermos a nós próprios”, observou o cardeal-patriarca de Lisboa.
O livro ‘Bispos e Arcebispos de Lisboa’ apresenta 47 biografias de prelados entre 1147 e o início do século XVIII; os patriarcas a partir de 1716 já estão biografados.
Segundo o investigador João Luís Fontes, que dirigiu a obra, do século IV ao XII há três capítulos de síntese onde se apresenta “o que é conhecido dos bispos desse período”.
Em declarações à Agência ECCLESIA, o responsável considera que o livro ‘Bispos e Arcebispos de Lisboa’ é “um marco na renovação” da historiografia sobre o religioso e sobre a dimensão religiosa, propondo “um novo olhar sobre as biografias dos bispos que presidiram a esta diocese”.
Neste contexto, o investigador do Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR) da Universidade Católica Portuguesa explica que é o “retomar de uma tradição historiográfica”, sob uma nova perspetiva, e também abre caminho para “um estudo mais alargado” que permitirá uma “compreensão mais integrada destes bispos e arcebispos”.
João Luís Fontes contextualiza que a perspetiva hoje é perceber os bispos na sua relação com o contexto de onde chegaram, origens familiares, percurso de formação, relação com as esferas da administração política, “até jogos de poder, que muitas vezes se cruzam os próprios percursos dos bispos”, mas também “a sua dimensão pastoral, o modo como intervêm nas dioceses”.
A nova publicação é o resultado de quase quatro anos de trabalho de 55 colaboradores e apresenta também a forma como os prelados se fizeram representar ou foram representados: heráldica, tumulária, selos, retrato, “livros que leram, escreveram ou patrocinaram, as obras artísticas que foram mecenas”.
A obra da Editora Livros Horizonte contou com a coordenação de António Camões Gouveia, Maria Filomena Andrade e Mário Farelo.
CB/OC