Irmã Ângela Coelho, coautora de livro «Viver na Luz de Deus», realça importância da correspondência que a religiosa recebeu no Carmelo, nos anos de clausura

Lisboa, 16 ago 2025 (Ecclesia) – A irmã Ângela Coelho, coautora do livro ‘Viver na Luz de Deus”, refere que a Irmã Lúcia teve contacto direto com o sofrimento humano, na clausura, com a ajuda da correspondência que “sempre” recebeu.
“Ela carregou o sofrimento do século XX no seu coração, o mais individual e o institucional, quer da Igreja, quer do mundo, porque chefes de Estado procuravam-na. Isto é extraordinário. E ela não fica esmagada por isto”, refere à Agência ECCLESIA a vice-postuladora da causa de canonização da Irmã Lúcia.
“O que chega ao coração desta mulher, e eu gosto muito de pensar isto, foi o sofrimento do século XX”, acrescenta.
O livro que apresenta o ‘Itinerário espiritual de Lúcia de Jesus’, com passagens até agora inéditas do seu diário, dedica particular atenção ao volume de cartas que a religiosa portuguesa recebia no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, onde viveu mais de 50 anos.
“Aquelas cartas que vinham de papas, cardeais, núncios, chefes de Estado, artistas, gente conhecida e desconhecida, gente que já está canonizada, budistas, irmãos sem fé, ateus, toda a gente lhe escreve a contar as suas dores, os seus problemas, as suas dificuldades mais privadas”, relata a coautora.
A irmã Lúcia, realça a entrevistada, “reza por todos”.
“Ela é uma mulher orante, tanto que vai querer ir para o Carmelo para desenvolver mais esta missão, e é uma mulher que tudo o que faz entrega a Deus”, assinala a irmã Ângela Coelho.
O diário de Lúcia de Jesus, intitulado ‘O Meu Caminho’, foi escrito por ordem episcopal, na década de 40 do século XX, tendo entradas até 2004, um ano antes da morte da religiosa no Carmelo Santa Teresa.
A coautora do novo livro refere que, nestes escritos, a carmelita e vidente de Fátima deixa uma “grande herança”, que ajuda a contrariar “uma compreensão desajustada do que é o sacrifício”.
“Não tem a ver com muito sofrimento ou pouco sofrimento, com muita dor ou pouca dor. Não, é acolher as circunstâncias da vida, sobretudo as mais difíceis, naturalmente, aquelas que doem mais interiormente, e não há amor sem dor, é um mistério esta ligação entre o amor e a dor”, precisa.
A provincial da Aliança de Santa Maria, congregação inspirada na espiritualidade do Imaculado Coração de Maria e na Mensagem de Fátima, apresenta Lúcia como uma carmelita que viveu “uma vida de trabalho, de muito trabalho”.
O livro mostra Lúcia como encarregada da direção das obras, com a própria a comentar: “Os operários chamavam por mim a cada passo”.
“Ela é responsável por coordenar as obras no Carmelo, também por esta relação com os trabalhadores, com os funcionários, ela sabia falar a linguagem das pessoas”, indica a irmã Ângela Coelho.
A Irmã Lúcia viria a ajudar nas obras no Carmelo da Guarda, no Carmelo de Braga e de Aveiro.
“Temos fotografias da irmã Lúcia, rodeadas de homens com capacetes próprios de trabalho e com ela a apontar, a dar indicações porque tinha muito claro, pelo seu conhecimento e estudo que fez no Carmelo, o que é o espaço de um Carmelo, como deve ser um espaço para preservar o lugar das irmãs, os locutórios”, relata a entrevistada.
O livro ‘Viver na Luz de Deus. Itinerário espiritual de Lúcia de Jesus’, escrito com o carmelita francês François-Marie Léthel, especialista na teologia da santidade, e lançado pelas Edições Carmelo, está no centro de um ciclo de conversas com a irmã Ângela Coelho, ao longo dos cinco domingos de agosto, no Programa ECCLESIA na Antena 1 da rádio pública (06h00).
OC