Professora da UCP apresenta publicação «Estoutro – Refugiados e Imigrantes Pobres numa Democracia Compassiva», que integra coleção “Argumento”
Lisboa, 18 jun 2025 (Ecclesia) – Inês Espada Vieira, professora da Universidade Católica Portuguesa (UCP), escreveu o ensaio “Estoutro – Refugiados e Imigrantes Pobres numa Democracia Compassiva”, inserido na coleção de livros Argumento, da UCP, no qual propõe olhar para este fenómeno.
“Aqui a proposta é não perdermos o fascínio. O fascínio não é o fascínio abstrato da contemplação, mas essa capacidade de encantamento que nos permite e que nos leva à ação. E por isso estoutro junta a ideia de continuar a olhar a pessoa refugiada ou o imigrante pobre que está ao meu lado, tentando não me cansar”, afirmou a autora à Agência ECCLESIA.
Inês Espada Vieira explica que “o outro” é aquele por quem tantas vezes cada um se apaixona, com “dimensão de fascínio”, e o “este” é “aquele que está à beira do caminho a pedir ajuda”.
“A proposta do estoutro é continuarmos a olhar para estas pessoas, persistir ao seu lado, não acima”, indica, lembrando o Papa Francisco que durante a Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023 deixou a mensagem de que o “único momento em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo é quando queremos ajudá-la a levantar-se”.
A também presidente do Centro de Reflexão Cristã explica que “estoutro” “não é uma palavra nova”, “existe na Língua Portuguesa”, e é uma resposta a uma inquietação que tinha.
“Eu penso que todos temos em nós uma vontade salvífica, uma vontade, uma comoção, e é importante comover-nos, e o dia em que deixarmos de nos comover será, de facto, um dia muito triste para a humanidade”, destacou.
A publicação, da UCP Editora, evoca uma doença social que é o esquecimento da pobreza, que constitui uma parte da reflexão em que Inês Espada Vieira se fundamentou na filósofa espanhola Adela Cortina, que cunhou o termo aporofobia, que significa o desprezo pelas pessoas pobres.
“Ela diz que muitos casos que nós chamamos de xenofobia e de racismo são de facto esse ódio ao pobre. Porque nós vivemos numa sociedade de troca”, refere a docente da UCP.
A autora assinala que o pobre é olhado como “alguém que não tem nada para dar”.
“Estamos sempre à procura do que podemos retirar. E saltamos esse lado humano de que é, e de que a Adela Cortina fala, e que eu gostaria, e por isso trouxe também para o título, que estes temas são temas da democracia”, enfatiza.
Inês Espada Vieira dá conta que “este pequeno ensaio” foi “um risco ao mesmo tempo uma liberdade”, justificando que a reflexão não é de “uma área académica específica”: “Não é sociologia, não é ciência política, não é políticas públicas”.
“Eu inscrevo-me aqui num terreno plural”, frisa, na entrevista emitida hoje no Programa ECCLESIA, transmitido na RTP2(15h03), a propósito do Dia Mundial do Refugiado, celebrado no dia 20 de junho.
A autora adianta que o livro, com 40 páginas, nasceu também como uma forma de “organizar” a experiência que tem tido na iniciativa de acolhimento a estudantes refugiados da Universidade Católica Portuguesa, com a expectativa de “continuar a fazer mais e melhor pelas pessoas” que chegam e que precisam de “apoio num determinado momento”.
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