Publicações: «Dinâmicas, comportamentos e sociabilidades» na história religiosa do centro histórico do Porto mostra «alma das pessoas»

Livro «História Religiosa do Centro Histórico da Cidade do Porto» cartografa «relações comunitárias» das igrejas e capelas do território

Foto Agência ECCLESIA/HM

Porto, 04 dez 2025 (Ecclesia) – O livro ‘História Religiosa do Centro Histórico da Cidade do Porto’, da autoria de Vítor Teixeira, quer mostrar as “dinâmicas, comportamentos e sociabilidades” que as relações comunitárias e a vida religiosa foi imprimindo na região.

“A matriz cultural e a alma das pessoas é um desafio ainda a crescer. Dentro da ideia do sentimento religioso, daquilo que não é apenas o material, também o imaterial, o invisível, escutar um pouco as pedras, os lugares, os caminhos da história, numa sensibilidade, dentro de um aspeto que é o religioso”, explicou o autor à Agência ECCLESIA.

Vitor Teixeira quis acrescentar às datas da construção, “da edificação, da sagração” dos espaços a “matriz cultural” e a “alma das pessoas”.

“As pessoas sentem que estão num território que não é apenas um lugar para viver, para dormir e trabalhar. Há um sentimento de pertença”, valoriza.

“O Porto é uma cidade de liberdades, é uma cidade revolucionária, é uma cidade com uma identidade. Não é a capital, é uma cidade que tenta sempre pôr-se um pouco mais forte e há também nisso tudo uma dimensão religiosa”, indica.

O cardeal patriarca emérito de Lisboa apresentou a publicação que considerou uma “quase enciclopédia” para compreender o que tem sido “publicado sobre as igrejas, as capelas, do Centro Histórico do Porto”.

“É quase metro a metro que este livro ajuda a compreender o que andando pelas ruas se percebe de património da humanidade, de uma forma muito acessível”, regista em entrevista à Agência ECCLESIA.

Bispo do Porto entre 2007 e 2013, antes de ser patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente reconhece uma dificuldade no “destrinçar o que é Igreja e religioso, do que é povo do Porto e o Porto em si”.

“A população do Porto é, maioritariamente, uma população daqui. Foi o rio que a trouxe. Esse caráter identitário do Porto, aqui, está quase garantido. E, rapidamente, quem entra – é preciso entrar, vir com o espírito aberto e com disponibilidade para conhecer e para aprender, e com gosto de aprender – mas entra rapidamente e fica em casa, porque toda a gente se conhece, na rua, conversa. Uma cidade como Lisboa é mais difícil, porque há gente de todo o lado”, explica.

D. Manuel Linda, atual bispo da diocese, fala numa “radiografia da alma” que mostra “a dimensão religiosa indissociável da cidade do Porto”.

“As pedras são conhecidas e são belas. Temos igrejas mais monumentais de vários estilos. Estas contam, evidentemente, e é isto que também traz aqui tantos turistas, é uma cidade, numa dimensão turística, que está a crescer cada vez mais. Mais importante do que isso é exatamente a radiografia da alma, este sentido muito típico do que é o ser portuense e o ser portuense é defender a liberdade, o trabalho, a Virgem”, sublinha à Agência ECCLESIA.

O padre Jardim Moreira, pároco da igreja de São Nicolau, local da apresentação do livro, assinalou a “lacuna” que sentiu existir, cimentando uma identidade do Centro historico do Porto.

“A partir do momento em que o Centro Histórico foi classificado como Património Mundial da Unesco, os turistas começaram a aparecer aqui em massa, o que levou depois a uma centrifugação da população e agora temos turistas e a cidade começou a crescer e a desenvolver-se para outros lados e também a extravasar para as zonas limítrofes. Então é preciso não perder as raízes da cidade e a cidade é a cidade histórica, aqui entre muros e aqui é que nasceu o Porto e o Porto da Invicta”, valorizou.

O responsável sublinha a necessidade de pensar “as raizes e a história da cidade” para “construir o futuro”.

“A construção do Porto e do seu futuro não pode esquecer a sua raíz, a sua história, a sua alma, esse património material e património imaterial. Achei que era importante não só consignar isso num livro por alguém que fosse capaz de nos deixar a história com fidelidade, mas também um momento como este onde as forças vivas da cidade se reunissem e tomássemos todos consciência de que precisamos caminhar juntos para construir uma sociedade coesa”, indicou.

HM/LS

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