«Todos os livros de literatura são livros de abandonados e contrastam com uma outra Bíblia que termina com a palavra de esperança» – Mendo Castro Henriques
Lisboa, 21 nov 2024 (Ecclesia) – O professor universitário Mendo Castro Henriques apresenta hoje o seu novo livro, ‘Bíblia dos Abandonados’, que escreveu com o propósito de “estar vivo junto com outras pessoas”, às 21h00, na Capela do Rato, em Lisboa.
“Podemos estar num país, e numa Europa, onde as condições de vida para a maioria parecem razoáveis, mas estamos numa perda de constante sentido. E o sentido só se constrói através da presença de outro. Enquanto ele não surge, estamos abandonados”, disse Mendo Castro Henriques, esta quinta-feira, dia 21 de novembro, em entrevista à Agência ECCLESIA.
O autor do livro ‘Bíblia dos Abandonados’ explica que o seu propósito ao oferecer este livro aos leitores “é estar vivo junto com outras pessoas”, salientando que se está numa época “em que há um problema”, na sua opinião, “mesmo brutal, de sobrevivência através do sentido”.
“Todos os livros de literatura são livros de abandonados e contrastam com uma outra Bíblia que termina com a palavra de esperança”, observou o doutor em Filosofia Política.
Mendo Castro Henriques explica que “a busca das soluções e das ansiedades que todas as pessoas querem”, de uma vida melhor, com mais qualidade, “não passa só no plano material” mas também no plano do significado “e das solidariedades que são instituídas”, e, neste livro, procura “com mais lamentos e com mais emoções transmitir algumas destas ideias”.
O professor universitário, numa frase “quase direta de Sigmund Freud” apresenta Moisés como o inventor de Deus, o inventor da lei e o inventor da moral, e faz uma “comparação ao contrário” que Freud é Moisés.
“Moisés atravessou o deserto para chegar à terra prometida e Freud, de certo modo, atravessou o deserto para voltar à terra dos mortos, à terra dos pesos que nós temos em cima, que é a terra do inconsciente. É uma travessia dura que ele faz, mas sempre no seu núcleo familiar com alegria, por isso, é que eu fiz essa carta dele à sua esposa, Marta”, explicou.
Um dos poemas de Mendo Castro Henriques, na ‘Bíblia dos Abandonados’, refere uma carta de Marshall McLuhan – o autor da frase “o meio é a mensagem’ – ao filho, afirma ‘no princípio era a imprensa, depois apareceu o mundo, o mundo condenado pela magia negra da tinta do jornal’.
“Isso faz parte dos procedimentos para chamar a atenção. Inverter que primeiro era a imprensa e depois é o mundo. Mas perante a soma avassaladora de informação que nós vivemos… Até parece verdade, não é? E realmente ainda ninguém sabe bem como se defender desta informação avassaladora nas redes, na comunicação social”, desenvolveu.
O novo livro de Mendo Castro Henriques, com 48 poemas da sua autoria e ilustrações de Catarina Castel-Branco, “é como uma confissão filosófica”, composto por quatro partes, segundo o autor, as duas primeiras partes inspiram-se nas narrativas e episódios bíblicos, a quarta parte, “que é importante”, porque “é um livro que é também um coletivo”, apresentando um conjunto de muitos testemunhos, como o Paulo André Martins, a Emília Nadal, a Teresa Toldy.
‘Bíblia dos Abandonados’ é apresentado hoje, dia 21 de novembro, a partir das 21h00, na Capela do Rato – Capela de Nossa Senhora da Bonança –, em Lisboa, pela teóloga Teresa Toldy.
Mendo Castro Henriques explicou também que este “é um livro que foi feito essencialmente ao longo deste ano de 2024”, embora tenha também textos mais antigos, “uma pequena parte”, desafiado pela pintora Catarina Castel- Branco para que “fossem completados a tempo de ficarem prontos nesta época”.
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