D. Manuel Clemente apresentou livro que evoca momento histórico ligado ao Concílio Vaticano II
Lisboa, 17 nov 2015 (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa afirmou que recordar «O Pacto das Catacumbas» é dar “um novo realce e novo impacto na vida da Igreja”, 50 anos depois deste compromisso.
“O pacto com o radicalismo evangélico em torno da pobreza que teve e nos deixou é, mais uma vez, um daqueles estímulos que quase ciclicamente é dado à Igreja toda para voltarmos ao princípio que nos define como cristãos”, explicou à Agência ECCLESIA D. Manuel Clemente, que apresentou a obra esta segunda-feira, na Capela do Rato.
O livro ‘O Pacto das Catacumbas’, de Xabier Pikaza e José Antunes da Silva, recorda os 40 bispos que se reuniram nas criptas de Santa Domitila, Roma, a poucos dias do final do Concílio Vaticano II, em novembro de 1965.
O cardeal-patriarca de Lisboa disse que este compromisso que os bispos firmaram, de «viver um estilo de vida simples e a exercer o seu ministério pastoral de acordo com critérios evangélicos», é ainda “um bom sinal do Concílio Vaticano II”.
“Muito inserido numa certa linhagem correspondendo ao apelo do Papa João XXIII. Os pobres sociologicamente falando e a pobreza em sentido mais englobante ganharam uma grande prevalência e mesmo na tradição católica deixaram de estar tão ligados ao trabalho de algumas congregações religiosas”, recordou D. Manuel Clemente.
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa sustentou que a “encarnação” deste pacto hoje é o Papa Francisco.
“Creio que para mim, como para todos os meus colegas do episcopado, é uma figura muito estimulante e desafiante para esse radicalismo evangélico. Creio que a melhor figuração do pacto, 50 anos depois, é a pessoa e protagonismo eclesial do Papa Francisco”, desenvolveu o cardeal-patriarca de Lisboa.
A nova publicação, da chancela da Paulinas Editora, foi apresentada na Capela do Rato e o seu capelão destacou que este pacto “é de facto evangélico” porque o bispos procuram fazer um “corte profético”, até com direitos adquiridos.
“Direitos, privilégios, que são heranças históricas que eles renunciam voluntariamente para de uma forma desprendida expressarem a liberdade com que Jesus a anunciou o reino de Deus”, comentou o padre Tolentino Mendonça.
Para o vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, o ‘Pacto das Catacumbas’ é um “desafio para todos os cristãos”, não só para os bispos mas para o estilo de vida cristã que “tem de ser revisto em chave evangélica”.
O sacerdote e poeta madeirense observou ainda que este compromisso é também um manifesto político porque “é uma Igreja despojada, radicalmente ao serviço, que se desprende de muitos atavismo”, uma Igreja capaz de fazer uma “crítica em relação aos seus próprios automatismo e heranças”.
“Procuraremos viver segundo o modo ordinário da nossa população, no que concerne à habitação, à alimentação, aos meios de locomoção e a tudo que daí se segue”, lê-se numa das passagens do ‘Pacto das Catacumbas’ assinado em 1965.
Por sua vez, o presidente da Cáritas referiu que “muito” do que foi assinado nas criptas de Santa Domitila tem “de sair urgentemente das catacumbas” para que se cumpram os desígnios de há 50 anos.
“Os pobres não estão nas catacumbas porque na situação em que vivem até os cegos são obrigados a ver”, disse Eugénio Fonseca, considerando necessário que o Pensamento Social Cristão “chegue a todos”, seja traduzido numa linguagem “conforme as etapas em que cada um se encontra na vida, desde a catequese”.
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