Publicação missionária revela «Vidas despedaçadas» pela corrida ao armamento

A cada minuto que passa, o mau uso do armamento convencional provoca uma morte violenta, enquanto muitas outras pessoas são mutiladas, torturadas, violadas ou forçadas a fugir. Esta constatação dá o mote ao artigo “Vidas despedaçadas”, que revista “Além-Mar” dos Missionários Combonianos apresenta na sua última edição. Um pouco por todo o mundo os arsenais continuam a aumentar desenfreadamente, tanto a nível do armamento convencional como das armas ligeiras, constituindo uma ameaça cada vez maior à segurança e à paz mundial. As armas estão fora de controlo é precisamente a tónica da campanha “Vidas Despedaçadas”, recentemente lançada por organizações tão prestigiadas quanto a Amnistia Internacional e a Oxfam. Para Manuel Giraldes, autor do artigo, este alerta é “particularmente oportuno numa época em que, a coberto da «guerra contra o terrorismo» e do cínico pragmatismo que troca armamento por aliados, o negócio e o tráfico não cessam de aumentar.” O texto revela que as cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (França, Rússia, China, Reino Unido e EUA) respondem, juntos, por 88% da exportação mundial de armas convencionais. A ausência a legislação escasseia, tanto a nível das armas convencionais ou ligeiras, quer a nível nacional ou internacional. Nesse sentido, a campanha da Oxfam reivindica com carácter de urgência que, à escala mundial, se chegue nos próximos três anos a um consenso em torno de um Tratado de Comércio de Armas. O artigo “Vidas despedaçadas” procura combater “uma ideia errada e antiquada do «ciclo de vida» das armas”. Cita-se, como exemplo, a situação na Guatemala, onde, quatro anos após a assinatura dos tratados de paz, 75% da população se queixava de um aumento da insegurança e 88% notava um acentuado aumento da aquisição e proliferação das armas de fogo. “Minas terrestres, artefactos não deflagrados das bombas de fragmentação e outros dispositivos continuam a causar, muito depois do final oficial dos conflitos, 15 a 20 mil vítimas por ano”, explica a peça informativa. Falando de um “negócio sujo e corrupto”, a Além-Mar denuncia que, a nível mundial, as exportações autorizadas de armamento sejam apenas a ínfima ponta de um gigantesco icebergue. Segundo as estatísticas oficiais, as transacções legais rondam os 21 mil milhões de dólares, o que representa 0,5% de todo o comércio internacional e menos de metade do valor do mercado global de café. O artigo em questão apresenta alguns números para dar “uma ideia do que se passa nos bastidores”: os gastos militares consomem, em média, 2,8% dos orçamentos dos governos antes de um conflito, 5% durante e 4,5% na década seguinte; só no ano de 1999, a África do Sul acordou a aquisição de seis mil milhões de dólares de material militar; entre 1998 e 2001, os EUA, o Reino Unido e a França ganharam mais com a venda de armas aos países em vias de desenvolvimento do que o que gastaram nas ajudas ao desenvolvimento; os países da África, da Ásia, do Médio Oriente e da América Latina gastam, em média, vinte e dois mil milhões de dólares por ano em armas Assim se percebe, de acordo com o texto, que se a Amnistia Internacional e a Oxfam estão a apelar à criação de legislação que, a nível nacional e internacional, regulamente e controle o negócio, o tráfico e a circulação de armamento de todos os tipos é porque consideram que a situação actual é “muito grave”. Essa gravidade, assegura a publicação missionária, deve-se “em larga medida à «guerra ao terrorismo», que modificou as políticas restritivas de diversos governos e que faz com que cada vez mais armas estejam a ser exportadas sem grande consideração pelo historial em matéria de direitos humanos dos países destinatários.”

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