Membro do Corpo Nacional de Escutas e do projeto «Cuidar» destaca necessidade de mudança cultural
Lisboa, 20 mar 2023 (Ecclesia) – António Theriaga, membro do grupo consultivo do ‘Cuidar’, sustentou que a crise dos abusos sexuais de menores “não se resolve só com os bispos”, como recorda o Papa, e exige “o envolvimento de todos”.
“O principal é mudar a mentalidade, a cultura existente, esse é o grande desafio”, disse à Agência ECCLESIA o membro do Corpo Nacional de Escutas (CNE), apontando como prioridade “colocar as vítimas no centro da ação”.
O entrevistado admite que este assunto é “pesado” e, muitas vezes, “é encarado de forma diferente por cada pessoa”, mas sublinha que, tanto na Igreja como na sociedade, o encobrimento “não deve ser o caminho”, até porque “essa cultura implodiu”.
O projeto ‘Cuidar’ é um projeto de investigação e extensão universitária promovido pelo Centro de Estudos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa (CEPCEP), com o objetivo de apoiar as organizações católicas que trabalham com crianças e jovens no desenvolvimento de uma cultura de bom trato, usando abordagens centradas na criança e no seu bem cuidar.
O desafio da mudança de mentalidade também está acompanhado pelo medo e sentimento de receio da exposição.
“Há muitos desafios neste processo dos abusos: um deles é como chegar a tanta gente diferente”, frisa o entrevistado.
António Theriaga relata que já lidou com situações de abusos de pessoas vulneráveis, perante os quais ficou “chocado, incomodado” e a sentir-se “incompetente”, admitindo que “o caminho se faz andando”.
“É incontornável caminhar na tolerância zero, na transparência, apurar e rever o passado”, acrescenta.
Para o membro do grupo consultivo do ‘Cuidar’, o caminho passa por “procurar a verdade”, num trabalho que implica “identificar as vítimas e reparar aquilo que for possível”.
Antes da criação da Comissão independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as crianças na Igreja Católica, em finais de 2021, o CNE “já tinha criado uma linha para denúncias para situações de abuso”.
Desde 2016, o Corpo Nacional de Escutas tem “um sistema de proteção e cuidado” e já publicou vários relatórios sobre as ocorrências.
A associação católica aposta “na transparência”, tendo um manual de boas práticas e um código de conduta, além de “canais de comunicação” para que as “vítimas ganhem alguma confiança e possam falar, denunciar”.
António Theriaga adverte que “há muita gente impreparada, relativamente ao tema” dos abusos sexuais.
Em relação ao ‘Projeto Cuidar’, uma iniciativa transversal a diversos setores da sociedade, este membro realça que “é fundamental dar formação, fazer consultoria e fazer alguma investigação sobre a temática pouco conhecida”.
A Igreja, acrescenta, “este problema” para se tornar “um exemplo para a sociedade e outras instituições”, avança.
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