Proteção de Menores: Presidente da Conferência Episcopal afirma que o propósito é «tratar das pessoas» e «prevenir e tentar evitar o mais possível»

Para D. José Ornelas, é importante que «a sociedade saiba entender a gravidade destas situações» e aja

Foto Agência ECCLESIA/MC

Fátima, 01 fev 2025 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa afirmou hoje, sobre proteção de menores e adultos vulneráveis, que “não é uma questão de números”, mas “de pessoas”, que se vão encontrando também num “caminho de superar as graves feridas causadas”.

“Este foi o propósito com que nós sempre nos metemos neste caminho, nesta estrada de encontrar lugar para as pessoas que foram vítimas de abusos que nunca deviam ter acontecido e nunca deviam ter acontecido nestes lugares, mas que aconteceram”, disse D. José Ornelas aos jornalistas, no IV Encontro Nacional das Comissões Diocesanas e Castrense de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis, em Fátima.

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) acrescenta que isso significa “o respeito e o apreço por estas pessoas, pela coragem que tiveram de denunciar”, significa também uma atitude de reconhecimento e de “pedido de desculpa”, e depois, vão procurar ajudar a que as pessoas possam “construir um mundo, uma vida e um futuro melhor”.

Sobre as vítimas que estão à espera de compensações financeiras, D. José Ornelas salientou que 2025 “vai ser um ano, certamente, de avançar neste processo e está previsto que não demore muito tempo o trabalho que se está a fazer da auscultação”, e lembrou que “as previsões estão fixadas até 31 de março” mas podem sempre ser apresentadas “situações novas”, os representantes do Grupo VITA e as Comissões Diocesanas e Castrense de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis trabalham “para que se encontre o mais rapidamente possível a solução”.

Foto Agência ECCLESIA/MC

“Os nossos objetivos são primeiro tratar das pessoas que foram verdadeiramente afetadas por situações destas, segundo prevenir e tentar evitar o mais possível que isto aconteça, e estudar, isto é aquilo que neste momento eu acho algo de interessante e positivo”, acrescentou.

Para o bispo diocesano os estudos que foram feitos no âmbito deste processo sobre os abusos concretamente no seio da Igreja Católica “são situações e são processos que levam a procurar um futuro melhor e a encontrar soluções novas”, e destacou, positivamente, as formações para catequistas, formações para agentes pastorais, formações também para os padres, o que significa que “este assunto tem sido abordado”.

“O trabalho enorme que está a ser feito nas dioceses de formação, como estes encontros de hoje, servem de partilha de experiências, servem também de formação das pessoas e, portanto,  de uma capacitação, de uma consciência e de uma cultura nova dentro da Igreja. E isto é aquilo que me interessa, é prevenir o futuro, evitar que novos casos aconteçam”.

Para o presidente da CEP é importante que a sociedade “saiba entender a gravidade destas situações” para que depois possa agir em consequência e afirma que “é preciso, sobretudo, criar uma cultura em que as pessoas digam ‘bem, isso passa-se lá em casa’.

“Os dados da Polícia do ano passado são muito preocupantes e são preocupantes também pela dificuldade que se tem de chegar lá, que é o ambiente da família onde acontece, onde tem lugar a maior parte dos casos. Portanto, isso significa um esforço de todos”, acrescentou o responsável católico.

A presidente da equipa de coordenação das Comissões Diocesanas e Castrense de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis da Igreja Católica em Portugal adiantou que a nível nacional “os casos junto das comissões têm reduzido, mas também junto do grupo VITA têm reduzido”, e estão numa fase de “uma redução significativa de novas denúncias”.

Foto Agência ECCLESIA/MC

Aos jornalistas, Carla Rodrigues, explicou que os casos “continuam a aparecer”, por isso, “aumenta o número de denúncias”, mas “não tem o mesmo registo” e têm “menos denúncias”.

“A grande maioria são processos antigos, são denúncias que reportam há muitos anos, 30, 40 anos, contudo, há alguns jovens, mas é um número muito reduzido, há alguns jovens a apresentar também denúncias, porque a forma como a sociedade está preparada para escutar e abordar este assunto deixa as pessoas mais à vontade, mais confiantes em denunciar aquele tabu que existia, aquela vergonha”, desenvolveu a responsável da equipa de coordenação nacional.

Durante a tarde deste sábado, as Comissões Diocesanas e Castrense de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis, com o Grupo VITA, analisaram o processo de compensações financeiras às crianças e adultos vulneráveis vítimas de abusos sexuais ocorridos no contexto da Igreja Católica em Portugal, e partilharam também o trabalho questão a realizar nas dioceses.

Segundo a presidente da equipa de coordenação nacional, durante este ano de 2025, “já apareceram” mais pessoas a pedir compensações, “pelo menos duas pessoas”, mas ainda não está no mapa destas comissões diocesanas “para acompanhar todas as denúncias”.

Carla Rodrigues recordou também que a segunda comissão, a Comissão de Fixação, só será constituída e “só começa a trabalhar quando a primeira fase estiver fechada”, mas “já há nomes avançados”.

“Os processos vão passando,  mas o tratamento dos processos tem que ser tratado no seu conjunto, por isso não vai haver resultados da segunda comissão enquanto todo o trabalho da primeira não estiver concluído, e, neste momento, é nisso que nos estamos a fixar, concluir o trabalho da primeira comissão, que é a Comissão de Instrução”, acrescentou a entrevistada aos jornalistas.

O IV Encontro Nacional das Comissões Diocesanas e Castrense de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis vai terminar com a celebração da Eucaristia, presidida por D. José Ornelas.

Esta iniciativa anual começou com duas conferências: ‘Ultrapassar a ponta do iceberg: abusos de poder e de consciência’, pela irmã Ianire Angulo Ordorika, professora de Teologia na Faculdade de Teologia da Universidade de Loyola (Andaluzia), e ‘Abusos em contexto de Igreja e comunicação social’, um testemunho do jornalista João Luís Gomes” da Agência Lusa.

CB/PR

 

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