Coordenador da Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis da Arquidiocese de Braga assume necessidade de «pedir perdão a todas as vítimas»
Braga, 09 jun 2022 (Ecclesia) – D. Nuno Almeida, coordenador da Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis da Arquidiocese de Braga, afirmou que as instituições católicas devem rejeitar “a impunidade e o silêncio” perante o problema dos abusos sexuais.
“Na Igreja e suas instituições não podemos tolerar uma espécie de conspiração do silêncio, pois o silêncio mata emocionalmente tanto como os crimes dos próprios criminosos”, refere o bispo auxiliar, em entrevista publicada hoje pelo suplemente ‘Igreja Viva’, do ‘Diário do Minho’.
Segundo o responsável, a “primeira lição” que é preciso assumir é “a de não guardar silêncio”.
“Quem cala nunca se protege a si mesmo, só está a proteger o agressor. Devemos reconhecer as omissões, a negligência que, pelo silêncio, cultivamos na Igreja ao longo destas décadas, e precisamos de pedir perdão a todas as vítimas”, aponta.
Não podemos manter a impunidade nem o silêncio. Qualquer um de nós na Igreja, seja bispo, seja padre, seja catequista, quem lida com crianças, também é cidadão, e mantém as obrigações de cidadão”
Coordenador da Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis da Arquidiocese de Braga desde outubro de 2019, D. Nuno Almeida assume que foram as vítimas quem fez “ouvir a sua voz” para “recuperar o tempo perdido por causa de sentimentos de culpa, de vergonha e de raiva, frustração e de escândalo”.
O bispo auxiliar evoca a experiência dos encontros com vítimas de abusos.
“Marcaram-me e mudaram-me interiormente, e na maneira de olhar com todo o respeito, caridade e disponibilidade”, assume.
Para D. Nuno Almeida, “o coração de alguém que foi ferido, que foi abusado, é terra sagrada”.
A Comissão, acrescenta, está constituída para dar apoio, orientação a nível psicológico, jurídico e espiritual.
A entrevista detalha o processo seguido perante denúncias, realçando que o resultado final tem sempre “consequências duplas”, civis e canónicas, com acompanhamento da vítima e outros intervenientes, bem como dos agressores.
“O primado é o da justiça, claro, mas não pondo de lado a possibilidade de redenção, de perdão, reconciliação e cura. A Igreja deve retirar, preventivamente, da atividade pastoral e sem hesitação, o abusador identificado, mas não o deve abandonar”, sustenta D. Nuno Almeida.
OC