Futuro cardeal português pede que a sociedade «não baixe os braços» e assuma a denúncia e acolhimento dos casos de abuso sexual de forma «transversal»
Cidade do Vaticano, 29 set 2023 (Ecclesia) – D. Américo Aguiar disse hoje que o caminho que a Igreja em Portugal tem feito, desde 2019, tem sido “importante” e manifesta uma mudança, colocando no “lugar certo de preocupação e prioridade” as vítimas de abuso sexual.
“Eu estou convencido que o caminho que fizemos é importante. O sentir da Igreja portuguesa e da sociedade portuguesa, entre 2019 e hoje, acho que é totalmente diferente, e é diferente para melhor, naquilo que é o entendimento do grave problema e naquilo que são os procedimentos que cada um tomou”, sublinhou o futuro cardeal português.
O bispo eleito de Setúbal reagiu, no Vaticano, ao apelo da Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores (CPPM) para um “maior compromisso” na prevenção e resposta a abusos, nas comunidades católicas, numa nota divulgada a propósito do consistório, para a criação de cardeais, agendado para sábado, e do início da próxima assembleia sinodal, a 4 de outubro.
“Num momento em que o Colégio dos Cardeais se reúne no Consistório, somos encorajados pela lembrança frequente do Santo Padre aos que são chamados a este papel especial de que o sangue que são chamados a derramar é o seu próprio e não o daqueles que estão sob os seus cuidados”, pode ler-se no comunicado do CPPM.
Evocando as pessoas que sofreram em “silêncio” e a “imensa dor” das vítimas, a Comissão Pontifícia reafirma o seu compromisso de “trabalhar para garantir, tanto quanto possível, que tais atos hediondos e repreensíveis sejam erradicados da Igreja”.
D. Américo Aguiar reconhece que “hoje, em Portugal”, o lugar das vítimas “é o lugar certo de preocupação, de prioridade”.
“Acho que todos estamos convencidos que a dor não prescreve, que estas pessoas são heróis porque tiveram a coragem de abrir o coração, de partilhar momentos negros da sua vida, e nós só podemos abraçar, acolher, abraçar e acompanhar, sem nos dispensarmos de nada que esteja ao nosso alcance e dependa de nós para ajudar no caminho que é necessário fazer”, sublinhou.
O futuro cardeal lembra o caminho passado realizado a partir do “relatório da Comissão independente”.
“Em relação ao presente, as comissões diocesanas foram melhorando na sua constituição e nos seus procedimentos, temos o Grupo Vita, que está no terreno agora a corresponder àquilo que é a herança do trabalho da Comissão Independente, e agora cada uma das dioceses tem que fazer o melhor, cada vez melhor, cada vez melhor, para que, no que diz respeito à Igreja, ela seja exemplar no tratamento e no acolhimento dos casos”, indicou.
D. Américo Aguiar lamentou ainda os números que as autoridades indicam sobre os casos de abuso sexual – “a Polícia Judiciária vai dizendo que 1000 e tal casos por ano” – e pediu que a sociedade “não baixe os braços” e assuma a denúncia e acolhimento destes casos de forma “transversal”.
“Eu estou convencido que na educação, nas empresas, em todas as áreas, acho que todos começaram a fazer alguma coisa. Mas nós não temos essa perceção, do que é que está a acontecer, seja na prevenção, seja no acolhimento das situações. Eu acho que é importante não baixarmos os braços. E a Igreja tem que fazer um esforço diário de continuar a ser exemplar naquilo que é preciso fazer e que é urgente fazer”, sinalizou.
Parceria Consistório e Sínodo/LS