D. José Ornelas afirma que o pedido de perdão «não pode ser uma questão simplesmente de palavras» e que os alegados abusadores são afastados, no cumprimento de «protocolos» civis e canónicos
Lisboa, 13 fev 2023 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) disse que a Igreja Católica vai “trabalhar em parceria” com outras instituições do país para continuar a escutar as vítimas de abuso, garantindo que os alegados abusadores são afastados, seguindo os “protocolos próprios”.
“Desde que haja plausibilidade que isso possa ter acontecido, são afastados”, afirmou D. José Ornelas questionado sobre os procedimentos a tomar após receber a lista de alegados abusadores de menores na Igreja ainda no ativo.
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal apresentou hoje o estudo sobre casos ocorridos nos últimos 70 anos e vai entregar à Igreja Católica e à justiça, até ao fim do mês, uma lista de nomes de sacerdotes alegadamente abusadores ainda no ativo.
“Cada caso é um caso”, afirmou D. José Ornelas, lembrando que existem “protocolos” civis e canónicos para dar seguimento a denúncias de abuso sexual de menores na Igreja Católica, rejeitando também uma “caça às bruxas”.
“As pessoas que realmente cometeram crimes, sejam punidas pelos crimes que fizeram. Mas isso tem de seguir os protocolos próprios”, sublinhou.
D. José Ornelas comentou também que uma das propostas da Comissão Independente, contida no relatório integral divulgado hoje ao início da tarde, aponta para a criação de novo organismo para dar continuidade ao acompanhamento do problema dos abusos na Igreja.
O presidente da CEP disse que este é um projeto que “não termina na Igreja” e apontou a parcerias com “outras instituições” do país.
“Este não é um processo acabado, é um processo iniciado e em boa hora e com a competência da Comissão”, afirmou D. José Ornelas, referindo que as comissões diocesanas “vão ter um papel protagonista, no que diz respeito à prevenção, à formação, de ajuda psicológica”.
O presidente da CEP lembrou o “caminho sinodal e colegial na Conferência Episcopal”, apontando para “várias perspetivas a estudar” para dar seguimento ao trabalho da Comissão Independente, o que deve acontecer na Assembleia Plenária Extraordinária, agendada para 3 de março próximo.
D. José Ornelas falou da necessidade de “rever protocolos de formação” nos seminários, assim como nas metodologias para “identificar casos e rever processos” de denúncia, nomeadamente junto de cada bispo.
“Como é que falhou? Como há um caso que não chegou? Há processos que têm de ser revistos”, afirmou.
Para o bispo de Leiria-Fátima, “hoje não se faz nenhum evento para jovens e adolescentes sem que esta dimensão esteja presente”, acrescentando que o tema da proteção de menores vai estar presente na realização da Jornada Mundial da Juventude, que vai acontecer em Lisboa, em agosto deste ano.
Questionado sobre o pedido de perdão que vai ser apresentado às vítimas, D. José Ornelas disse que “não pode ser uma questão simplesmente de palavras” e remeteu a decisão sobre um gesto público para a reunião da Conferência Episcopal Portuguesa.
“Vai ser tratado para ser da Igreja em Portugal”, afirmou.
O presidente da CEP informou também que o orçamento para a realização do estudo de abusos sexuais pela Comissão Independente foi calculado em 200 mil euros, no seguimento das “verbas apontadas pela própria Comissão”.
“O que posso garantir é que não faltamos à Comissão com aquilo que era necessário e tudo o que nos foi pedido foi disponibilizado”, afirmou.
A declaração de D. José Ornelas, presidente da CEP, e conferência de imprensa decorreu na Universidade Católica e com a presença de todos os membros do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa
PR