Presidente do episcopado elencou 11 processos sobre abusos sexuais ou encobrimentos, de antigos responsáveis
Lourdes, França, 08 nov 2022 (Ecclesia) – A Conferência Episcopal Francesa (CEF) decidiu criar uma comissão de acompanhamento para tratar acusações relacionadas com abusos sexuais, contra bispos, e um Tribunal Penal Interdiocesano.
O anúncio foi feito esta manhã pelo presidente da CEF, D. Eric de Moulins-Beaufort, no final da assembleia plenária de outono que decorreu em Lourdes.
“Decidimos criar uma comissão de acompanhamento a que qualquer arcebispo ou bispo que tenha de lidar com o caso de outro bispo, por abuso ou violência sexual, se vai referir, para ser acompanhado em todas as etapas do processo”, precisou o arcebispo de Reims.
O direito canónico prevê que a autoridade que receba uma denúncia contra um bispo deve transmiti-la quer à Santa Sé quer ao metropolita (bispo que preside a uma província eclesiástica, constituída por diversas dioceses) do território onde a pessoa em causa reside.
D. Eric de Moulins-Beaufort admitiu que a sucessão de casos envolvendo responsáveis católicos “abalou” e, nalguns casos, “destruiu” a confiança das pessoas.
O presidente da CEF precisou as informações que tinha avançado esta segunda-feira, a respeito de 11 casos envolvendo bispos franceses, por alegados abusos de menores ou encobrimento dos mesmos.
“Três bispos, nos últimos anos, foram acusados por não denunciar um padre acusado. Um desses bispos morreu, outro foi condenado e o terceiro foi ilibado”, começou por referir.
Quanto aos outros oito bispos acusados de abusos sexuais, indicou D. Eric de Moulins-Beaufort, cinco dos casos eram do conhecimento público e foram alvo de processos judiciais, tendo um deles sido arquivado; outros três estão sob investigação.
Todos os responsáveis em causa, acrescentou, “estão atualmente afastados da responsabilidade episcopal e estão sujeitos a restrições ministeriais de vários tipos”.
O caso mais recente foi conhecido esta segunda-feira e diz respeito ao bispo emérito de Bordéus, cardeal Jean-Pierre Ricard, que confessou um comportamento “reprovável” com uma menor, de 14 anos, há três décadas e meia.
O cardeal, de 78 anos, assumiu o ato numa declaração escrita, na qual adianta que se colocou à disposição da Justiça, tanto civil quanto canónica, e que pediu “perdão” à vítima.
No último domingo, durante o voo de regresso a Roma, após a viagem ao Barém, um jornalista francês perguntou ao Papa os motivos de a Santa Sé não ter divulgado a condenação do bispo de Créteil, D. Michel Santier, que invocara “razões pessoais e de saúde” para renunciar ao cargo, em janeiro de 2021, mas que teria sido julgado por abuso de dois jovens adultos no início dos anos 90 do século passado.
A CEF divulgou, online, uma cronologia deste processo, tendo o presidente do episcopado admitido, esta segunda-feira, que sendo os bispos “figuras públicas”, as sanções a seu respeito devem “ser sempre publicadas, a menos que uma razão proporcional leve a outra decisão”, acrescentando que “a mesma reflexão pode ser aplicada aos sacerdotes”.
D. Eric de Moulins-Beaufort apontou à “grande diversidade de situações em relações aos atos cometidos ou alegadamente cometidos” os vários bispos, vincando que a Igreja tem o dever de garantir que os bispos e outros funcionários “não usem o seu estatuto eclesial para prejudicar pessoas frágeis ou vulneráveis”.
“A Igreja deve acompanhar os possíveis culpados com misericórdia, mas também com justiça”, declarou.
O Papa enviou uma mensagem à Plenária da CEF, através do secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, pedindo que os bispos avancem com “ousadia e discernimento”.
A prioridade, salientou Francisco, é “tratar as feridas do povo de Deus”.
“As vítimas destes abusos, antes de tudo, mas também todas as pessoas escandalizadas, dececionadas e provadas, especialmente os sacerdotes, cujo ministério tão belo é desonrado e que se tornou ainda mais difícil, e que precisam da vossa proximidade mais do que nunca”, acrescentou.
A mensagem inclui uma referência ao projeto de consulta aos cidadãos franceses sobre a eutanásia.
O Papa reza para que “um debate baseado na verdade e livre de ideologia possa ser levado a cabo”, ouvindo também as vozes dos bispos e responsáveis católicos.
OC
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