Igreja/Proteção de Menores: «As vítimas foram, são e serão o centro» – Carla Rodrigues

Encerramento de congresso internacional promovido pelo Grupo VITA e a CEP destaca necessidade de prosseguir esforço de prevenção e cuidado

Fátima, 27 nov 2025 (Ecclesia) – A presidente da Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas de Proteção de Menores afirmou hoje em Fátima que o foco da resposta aos abusos sexuais na Igreja permanece centrado em quem sofreu.

“As vítimas foram, são e serão o centro”, declarou Carla Rodrigues na sessão conclusiva do congresso internacional ‘Da Reflexão à Ação’, promovido pelo Grupo VITA e pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).

A responsável, da Arquidiocese de Braga, destacou que a Igreja passou de uma postura “reativa e fragmentada” para uma “política global, estruturada e cada vez mais transparente”, sublinhando que prevenir é “uma obrigação de cada um de nós” e não apenas das instituições.

“Há vozes silenciadas, há olhares que imploram ajuda e há histórias que se perdem na sombra do medo”, alertou.

Carla Rodrigues defendeu a necessidade de rigor, dando como exemplo a exigência de registo criminal para voluntários, uma prática já comum nos escuteiros que deve ser generalizada.

“A Igreja não pode continuar a dizer ‘o que é dado, temos de aceitar’; nós não temos de aceitar. Nós temos de ser rigorosos”, afirmou, apelando a que mais agentes pastorais participem nas formações.

Pedro Carvalho, diretor do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil, sublinhou por sua vez a importância de integrar as novas gerações na resposta ao problema, anunciando a criação de um “guia de boas práticas” e materiais pedagógicos.

“Se queremos falar seriamente de prevenção, não podemos continuar a ter grupos de jovens onde se pode falar de quase tudo, menos daquilo que mais pesa nos seus corações”, disse o responsável, defendendo uma Igreja que seja “um lugar seguro das perguntas difíceis”.

O responsável pela Pastoral Juvenil argumentou que os grupos de jovens são “espaços de encontro e de humanidade” onde se aprende a “gerir conflitos” e a partilhar medos, sendo essencial ouvir a sua voz porque “eles estão sempre muito mais à frente”.

No encerramento da sessão plenária, Rute Agulhas, coordenadora do Grupo VITA, anunciou as primeiras dez entidades que aderiram ao novo projeto ‘Igreja+Segura’, lançado hoje, incluindo a Diocese do Porto, o Santuário de Fátima, a Pastoral Juvenil e várias congregações religiosas e colégios.

“Estas primeiras 10 entidades são, de facto, as primeiras e isto vai assumir um bocadinho um processo de bola de neve”, afirmou a psicóloga.

Rute Agulhas revelou ainda que o próximo relatório de atividades será apresentado a 26 de janeiro de 2026, juntamente com dois novos documentos: um guia para “familiares e amigos das vítimas” e diretrizes para encontros “reparadores” entre bispos e sobreviventes, inspirados na justiça restaurativa.

“Acreditamos que há aqui todo um caminho de continuidade”, concluiu.

A parte final do congresso foi dedicada a sete workshops simultâneos sobre temas práticos como prevenção para crianças, intervenção psicológica com vítimas e gestão de agressores.

OC

 

O encontro, no Centro Pastoral Paulo VI, começou com as intervenções de D. José Ornelas, presidente da CEP; da irmã Célia Cabecinhas, vogal da direção da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP); e de Rute Agulhas.

O programa da manhã incluiu uma conferência do padre Hans Zollner, especialista em proteção de menores e docente na Universidade Gregoriana (Roma), sobre a proteção de vulneráveis como “parte integrante da missão da Igreja”.

Seguiu-se a intervenção da investigadora irlandesa Marie Keenan, professora da University College Dublin, sobre o tema “Refletindo sobre o processo da negação à responsabilização”.

O congresso focou-se ainda na realidade criminal portuguesa com a conferência de Carlos Farinha, antigo diretor nacional adjunto da Polícia Judiciária, sobre os crimes sexuais contra crianças e jovens na perspetiva da investigação policial.

Os trabalhos da tarde abriram com o painel “Saberes em Diálogo”, que cruzou as perspetivas do jornalismo (Rodrigo Pinedo, de Madrid), da educação (Rodrigo Queiroz e Melo, do Projeto CUIDAR) e do escutismo (Ivo Faria, do Corpo Nacional de Escutas).

 

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