Presidente da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima alerta para o crescimento da violência contra os idosos e fala em «grande honra» na «parceria em construção» no âmbito da JMJ Lisboa 2023
Lisboa, 08 jan 2023 (Ecclesia) – O presidente da Associação Portuguesa de Apoio á Vítima (APAV) disse que recebem 35 a 40 denúncias de vítimas por dia, alertou para o crescimento da violência contra os idosos e manifestou-se disponível para parcerias com a Igreja Católica.
Em declarações à Agência Ecclesia e à Renascença, João Lázaro referiu-se a “parcerias em construção” para garantir “políticas de tolerância zero” definidas pela Igreja Católica no âmbito de crimes de abuso sexual sobre menores.
“Penso que o grande objetivo é haver sinais muito claros desta política de tolerância zero relativamente à violência sexual”, afirmou o presidente da APAV.
João Lázaro disse que não está em causa substituir a Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja em Portugal, que vai apresentar, em fevereiro, o estudo sobre casos de abuso desde 1950 até ao presente, mas atuar no âmbito da prevenção, da “capacitação das várias estruturas que lidam com estas crianças e jovens” e “ser o apoio independente” à vítima.
A APAV “sempre a tem” disponibilidade para acolher possíveis denúncias, assegurou o seu presidente, acrescentando a possibilidade de “haver uma resposta dedicada às necessidades da instituição”, da Igreja Católica, tendo em conta as “próprias abordagens internas” e “as políticas das instituições para esta área, face a políticas de tolerância zero”.
Referindo-se concretamente à realização da Jornada Mundial da Juventude, João Lázaro disse que recebeu com “grande honra e satisfação” o pedido de parceria, “que está em construção”, para atuar na prevenção e no apoio diante de “situação de violência e de crime na sua diversidade”.
No planeamento deste tipo de eventos, há um pilar que não pode ser desconsiderado, que é o pilar das vítimas. A segurança pública é um pilar importantíssimo, mas o pilar das vítimas é bastante crucial”.
Na entrevista à Renascença e à Agência ECCLESIA, o presidente da APAV referiu-se ao número de vítimas registado durante o ano de 2022, considerando que se verifica o “regresso a um quadro estatístico do número de ocorrências registado antes de pandemia”, o que “pode ser um sinal positivo no sentido de haver mais pessoas a recorrer às polícias”.
Acerca das denúncias que chegam à APAV, há uma média de 35 a 40 vítimas que recorrem à associação em cada dia, apontando para um “aumento sustentado”, mesmo não tendo apurados os dados de 2022 “na sua plenitude”.
Fazemos uma leitura de que há mais pessoas a sair do silêncio, a pedir ajuda do que propriamente um aumento real da criminalidade”.
A APAV apoia vítimas de cerca de 70 crimes, “havendo claramente uma grande presença da violência doméstica, entendida num aspeto bastante lato”, precisou o seu presidente, alertando para o aumento da violência contra os idosos, um fenómeno que “se está a ‘desocultar’” na sociedade.
“Muita desta violência contra a pessoa idosa é perpetrada por pessoas do circuito mais próximo da vítima”, alertou, “o que aumenta a complexidade da intervenção”.
Diante de casos de crimes de violência, nomeadamente de violência sexual e doméstica, João Lázaro afirma que a “máquina da justiça deve estar mais próxima do cidadão vítima de crime”, com “condenações com sentenças”.
A vítima é a última que tem de ser culpabilizada por não se conseguir obter provas”.
O presidente da APAV disse que “a presença comunitária”, de toda a sociedade, é “um aspeto que é crucial” para alertar para situações de vítimas de crime e sublinhou a necessidade “de articulação e de coordenação de respostas” entre a sociedade civil e o Estado.
Na entrevista à Renascença e à Agência ECCLESIA João Lázaro referiu-se também à atribuição do Prémio APAV 2022 à Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja, afirmando que foi uma escolha “unânime” na direção da APAV para valorizar “a criação, o trabalho e a metodologia do trabalho da Comissão Independente”.
(Entrevista conduzida por Ana Catarina André, da Renascença, e Paulo Rocha, da Agência Ecclesia)
PR