Prostituição preocupa a Cáritas na região centro

Um drama humano antigo, sob olhares novos e globais, em debate nas I Jornadas Interdiocesanas sobre o tema A globalização confere novos contornos à prostituição. Porque o tráfico de mulheres e jovens para fins de exploração sexual pede um novo olhar, a Caritas diocesana de Aveiro, em parceria com as suas congéneres de Coimbra, Guarda, Lamego, Leiria/Fátima, Viseu e Cáritas Portuguesa, organizou as I Jornadas Interdiocesanas de Reflexão sobre a Prostituição. Esta proposta surge da necessidade de, enquanto Igreja, e “junto de pessoas creditadas nesta matéria, podermos reflectir para perspectivar formas de trabalhar”, explica à Agência ECCLESIA o Diácono José Alves, Presidente da Caritas Diocesana de Aveiro. Com a preparação desta jornada, a organização constatou a necessidade de “alargar o evento a outros elementos das comunidades locais”, nomeadamente a centros sociais e movimentos. A Caritas centra-se nesta área pelo combate pela dignidade da pessoa. O Presidente da instituição diocesana afirma que em Aveiro tentam descobrir a melhor forma de intervir para apoiar a pessoa na sua “dignidade, auto estima e eventualmente, apoiar as mulheres que queiram mudar de vida”. Isto sem esquecer “os filhos”. A Caritas de Aveiro centra-se no apoio às famílias, aos filhos, para além do apoio psicológico e por vezes económico. “Verificamos a existência de um grande número de mulheres que são alvo de apoio por parte de algumas instituições”. A Caritas “está a procurar que nos ensinem para vermos a melhor forma de podermos caminhar conjuntamente”. O Diácono José Alves afirma que não têm ainda uma “base de trabalho que trabalhe directamente com essa área”. A Igreja diocesana tem uma equipa de trabalho que trabalha no apoio às mulheres de rua. “Tem um núcleo de visitação e apoio regular”, explica. “Mas é pouco”, completa. Um problema antigo com nova abordagem Inês Fontinha, Directora da Associação «O Ninho» e participante no painel sobre « Prioridades na abordagem à problemática da prostituição, hoje» refere que “a prostituição e o tráfico devem estar interligados”. “Não podemos querer combater o tráfico para fins de exploração sexual sem combater as causas que levam à prostituição”, avança a directora, pois são faces da mesma moeda. Inês Fontinha recorda os casos da Alemanha e Holanda onde a prostituição foi legalizada com o pretexto de diminuir a sua prática. Na verdade “em ambos os países o tráfico aumentou exponencialmente”. A legalização “é contra os direitos humanos e fere a dignidade humana”. O dinheiro “tem um valor absoluto”, afirma a directora. Aliado ao tráfico de armas e de droga, “o que interessa é o lucro e a circulação de dinheiro”. Situações de profunda pobreza, a auto estima desorganizada tornam as mulheres vulneráveis à prática de prostituição. “Há sempre alguém que recruta, que vende o sonho da Europa onde elas vão ganhar dinheiro para ajudar a família”. Inês Fontinha acusa uma tendência para “se ignorar e não falar do problema e até mesmo não o considerar como um problema social”. Quer-se criar a ideia de “fatalismo, de que não se pode fazer nada”. Há 40 anos no terreno português, a Associação “O Ninho” trabalha em parceria com outras organizações europeias e brasileiras. A associação vai ao encontro das mulheres nos locais onde estão. “É importante conhecer o grupo alvo para implementar acções que se adequem às necessidades das pessoas”. “O Ninho” dispõe de um lar para acolher jovens e mulheres, “algumas com filhos” ajudam a criar “hábitos de trabalho”. Para isso, contam com um protocolo com a autarquia de Lisboa para a formação profissional em jardinagem. “Vamos tentando encontrar, com as mulheres, alternativas à sua situação”. Quando se trabalha a auto estima, quando “as pessoas passam a gostar de si próprias, com um projecto de vida alternativo, as mulheres não se prostituem”. Outra resposta, esta a nível local, surge do Projecto R.I.A – Rede de Intervenção de Aveiro. Letícia Martins, Coordenadora do R.I.A., apresenta a prostituição como um problema que se “consiga resolver de um dia para o outro”. Este projecto da Rede Social de Aveiro surgiu de uma candidatura ao Progride, o programa para a inclusão e desenvolvimento, e conta como entidade promotora a autarquia e como entidade executora o Centro Social de Azurva. Entre outros projectos e valências a que a R.I.A quer dar resposta, está o problema da prostituição, incluído no “combate a fenómenos graves de exclusão social”, explica a coordenadora do projecto. O trabalho de intervenção, na área da prostituição, junto de homens e mulheres é recente e centra-se em locais concretos. Quarta feira à tarde e Sexta feira à tarde e à noite, com uma unidade móvel, a equipa desloca-se pelo Rossio de Aveiro e pela estrada dos cinco caminhos. A intervenção passa pela educação para a saúde, pelo apoio psicosocial e pela redução de riscos. Objectivos a longo prazo que passam também pela “caracterização da população”, explica Letícia Martins. O público alvo deste projecto são as famílias em risco. A intervenção feita é multidisciplinar. “Contamos com uma rede de parceiros alargada que nos permite dar respostas à questão colocada pelas pessoas”. Um serviço prestado de forma anónima e confidencial que não leva necessariamente à mudança. “A intervenção passa por isso por um trabalho a longo prazo”.

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