Proposta católica tem de se «reinventar»

Alfredo Teixeira, docente e investigador da UCP, aborda realidade sociorreligiosa que espera novo patriarca em Lisboa

Lisboa, 04 jul 2013 (Ecclesia) – O antropólogo Alfredo Teixeira, da Universidade Católica Portuguesa (UCP), diz que um dos grandes desafios da Igreja em Portugal é encontrar espaço na “pluralidade” de dinamismos sociais e religiosos que marcam o ambiente urbano.

Em entrevista ao Programa ECCLESIA (RTP 2) que é hoje transmitida às 18h00, o coordenador-executivo do Centro de Estudos de Religiões e Culturas da UCP realça que no espaço citadino, ao contrário do que ainda acontece no meio rural, a proposta católica “é uma entre outras, que se afirma a partir de uma história, de uma tradição, mas que em todo o caso se tem de reinventar”.

Esta necessidade de mudança, acrescenta o teólogo, não deve ser tomada “necessariamente no sentido concorrencial, de ter uma proposta que responda ao marketing necessário do religioso”.

Implica “sobretudo” ir ao encontro “daquilo que são as preocupações, as dinâmicas de busca das pessoas que vivem na cidade” e que hoje encontram alternativas para a resolução dos seus problemas “em contextos muito diversificados, de busca espiritual”, sublinha o investigador.

A dois dias da tomada de posse de D. Manuel Clemente como novo patriarca de Lisboa, em substituição de D. José Policarpo, Alfredo Teixeira destaca a importância de uma estratégia católica que seja capaz de criar “comunidade” num ambiente marcado pela “mobilidade” e “instabilidade” demográfica.

“Nestes espaços urbanos”, explica o professor universitário, “as pessoas não praticam o território a partir necessariamente dos constrangimentos próprios da vizinhança, os amigos não são necessariamente aqueles que vivem ao lado, as sociabilidades são mais de tipo eletivo”.

Esta realidade leva a que “as comunidades também se possam constituir a partir de itinerários que já não são determinados pelo local de culto ou pela paróquia de residência”, aponta.

No caso específico das paróquias urbanas, Alfredo Teixeira considera que, apesar delas ainda serem “um meio privilegiado de inscrição da pertença cristã”, entraram numa fase de “remodelação profunda”.

Nalguns casos, recorda aquele responsável, têm sido implementadas unidades pastorais “mais vastas” devido à “falta de padres” ou de “recursos”, mas “nem sempre essa forma responde àquilo que é mais decisivo que são os itinerários,” percorridos pelas pessoas, “no fundo, aquilo que traduz a vida urbana como cultura”.

“Porventura estamos num momento em que teremos de ter modelos de paróquia muito mais plurais”, que vão ao encontro de “estilos de vida” com “caraterísticas muito diferenciadas”, conclui o diretor do Instituto Universitário de Ciências Religiosas da Faculdade de Teologia.

OC/JCP

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