José Manuel Pureza e Ulisses Garrido analisam aspectos nacionais e globais da crise
Os aspectos nacionais e globais da crise foram debatidos no Seminário Crise Ética na Economia e Política, organizado pela Comissão Nacional Justiça e Paz.
José Manuel Pureza, professor universitário, quis relembrar aos participantes que em momentos passados se encontraram projectos de "paz positiva", que, não só puseram fim a "conflitos armados, mas também trouxeram uma paz estrutural".
Dois factores estiveram presentes na prossecução destes projectos. "A auto determinação dos povos e promoção dos direitos humanos". O economista sublinha que estes factores fizeram a diferença "quando comparamos com a primeira metade do Séc. XX. Actualmente a nossa herança é de contradição".
O economista assinalou os progressos assinalados "em termos de em mecanismos de acompanhamento, em práticas sociais, que incluindo mulheres, crianças, etnias eforam realizadas em diversas escalas". No entanto José Manuel Pureza detecta "sombras".
"Cada vez mais se acentuou a tendência para representar as periferias como ameaça. As migrações são disso um exemplo", acentua, e assinala a "apropriação das lutas pelos direitos humanos pelo jogo político e diplomático".
José Manuel Pureza detecta desinvestimento no princípio de "auto determinação" e também nos "direitos humanos". "Investe-se na uniformização de modelos. Perpassa a ideia de que se fornos iguais estaremos em paz".
O economista assinalou a "herança de paz positiva e ambiciosa, com preocupações fortes", no entanto "com uma prática desencontrada. No nosso tempo, essa ambição como resposta à crise está baixa".
José Manuel Pureza pediu uma "descolonização do pensamento e dos paternalismos", sublinhando a importância de "diversificar o pensamento". O compromisso e a formação das pessoas é outro factor determinante. "Tanto para a Igreja como para a sociedade este é um desafio educativo e pedagógico". O economista pediu ainda uma "perspectiva ética forte e convicta que perante a imoralidade da realidade se torna benéfica".
Ulisses Garrido, membro da comissão executiva da CGTP e sindicalista, acusou a "financeirização da relação laboral". A participar no debate da manhã centrado na reabilitação do trabalho na economia e na sociedade, o sindicalista exemplificou com o facto de as remunerações serem divididas, com grandes diferenças salariais entre dirigentes e trabalhadores, com a remuneração em espécies, que desencadeia na falta de pagamento de segurança social e impostos sobre esses benefícios.
"Se mentalidade não mudam, corremos o risco de perpetuar os mesmos modelos que nos trouxeram aqui", assinalou, sublinhando que a crise não é só financeira, mas de emprego e do modo de repartição da riqueza.
Ulisses Garrido acusa os reguladores de terem sido "complacentes e não actuarem". "O que se tornou norma é como fintar o sistema e fugir das obrigações".
O sindicalista afirma que a reabilitação do trabalho significa "dar recursos suficientes para que cada um possa viver em família e socialmente". Implica ainda voltar aos valores, "ao bem comum, assumir a harmonização do progresso e não do retrocesso, dar prioridade à pessoa e não aos números, assumir o compromisso como dinâmica da sociedade. Foi assim que se progrediu no pós-guerra".
A aplicação das leis do trabalho, o cumprimento e a punição foram ainda pedidos, sublinhando que "os interesses têm de estar equilibrados".