Paulo Rocha, Agência Ecclesia
O Papa Francisco será o único cidadão do mundo a deixar inscrito num ano de pandemia – esperemos que o único – feitos históricos tão relevantes como foram a oração pela humanidade frágil, numa Praça de São Pedro despojada, no dia 27 de março de 2020; a publicação de um documento que rivaliza com qualquer magna carta sobre Direitos Humanos como é a encíclica “Fratelli Tutti”; e a visita desaconselhável a todos os títulos ao berço das religiões, o Iraque, para propor a fraternidade em vez do fratricídio.
A globalização da pandemia provocou sentimentos de insegurança generalizada, ausência de referências e a falta de vozes e de mestres que inspirem confiança e convoquem naturalmente rumos com sentido e horizontes com ânimo.
Lideranças políticas e sobretudo económicas, nos diferentes continentes, revelam-se geralmente incapazes de congregar a perceção de confiança, tal é a “navegação à vista” que se impõe diante de uma doença incontrolável. Faltam pontos de apoio, planos que não estejam vinculados a um qualquer RT ou curva pandémica. E se há um rosto que emerge como exemplo (provável) é o Papa Francisco.
Desde o dia 13 de março de 2013 que Francisco, o Papa que os cardeais foram buscar quase ao fim do mundo, surpreende em cada dia: tanto pela simplicidade e proximidade com todas as pessoas, particularmente as mais frágeis, como pela determinação em mudar o rumo da história ao convocar todos os cidadãos, líderes de religiões e de países, ricos e pobres, para uma nova era da convivência entre povos que se fundamente no cuidado da casa comum e na certeza de que todos somos irmãos. Também durante um ano de pandemia.
Os passos firmes e frágeis do Papa na Praça de São Pedro congregaram os acontecimentos do globo em torno das palavras e dos gestos de Francisco. Desafiou a rejeitar o medo e a assumir a cruz, alertando para a urgência de todos subirmos para o mesmo barco, apesar da tempestade. Palavras que indicaram o sentido e imagens que marcaram a humanidade e o decurso dos acontecimentos, tornando-se em referências essenciais para crentes e não crentes, decisores e sociedades que obedecem às normas ditadas pela pandemia.
Depois, a publicação da encíclica “Fratelli Tutti”, um documento sobre a fraternidade humana e a amizade social. Páginas que reúnem ideias e gestos de oito anos de pontificado e que o Papa quis sistematizar num documento que convoca todos para a pauta da amizade e da convivência entre famílias, vizinhos ou povos. Porque só sendo amigos somos capazes de fazer o bem e de tornar o mundo mais belo: não é assim entre conhecidos? Pois ainda mais quando de desconhecidos se trata, como diz o Papa.
No início do pontificado, passados três meses, o Papa Francisco foi a Lampedusa. Disse ao mundo que acolher o outro tem de ser naturalmente assumido por todos e não pode resultar de estratégias políticas ou cálculos económicos. A terminar o oitavo ano como sucessor de Pedro, o Papa quis concretizar o sonho antigo de visitar o Iraque, ir à terra de Abraão e aí afirmar que os homens e as mulheres que olham as mesmas estrelas do céu só podem caminhar em paz na mesma terra. E Francisco foi o primeiro a agir assim, partindo ao encontro de líderes políticos e religiosos, sempre tendo no horizonte a fraternidade como único caminho para a humanidade.
Oito anos após ter sido eleito, o Papa continua a surpreender e a inspirar, a adiantar respostas para as perplexidades do quotidiano e é o primeiro a dizer como se faz. Claro que segue o primeiro dos Mestres, Jesus Cristo. Hoje, basta seguir o exemplo do Papa. Procuram-se, por isso, seguidores de Francisco.