No ano em que as Irmãs Clarissas do Mosteiro de Caldeira, celebram 75 anos da sua fundação, depois de mais 500 anos com presença efectiva na Ilha da Madeira, vêem a possibilidade de abrir o processo de canonização da Madre Virgínia, irmã Clarissa e impulsionadora da Congregação, através do Nihil Obstat, documento da Santa Sé recentemente recebido na Congregação. Um longo processo iniciado em 1997, como explica à Agência ECCLESIA, a Irmã Otília Fontura, das Irmãs Clarissas do Mosteiro de Nossa Senhora da Piedade, em Câmara de Lobos e historiadora da vida e trabalho da Madre Virgínia, que aquando da sua chegada à ilha foi interpelada pelo Bispo local no sentido de dar início à investigação e recolha de documentação. A Madre Virgínia nasceu em 1860, no Lombo dos Aguiares, cidade do Funchal. Aos 12 anos manifestou o seu desejo pela vida religiosa, tendo entrado no Mosteiro das Mercês em 1881, com 16 anos. A 30 de Setembro de 1897, dia da morte de Teresa de Lisieux, a Madre Virgínia estava doente e foi curada, alegadamente pela intercessão e auxílio de Santa Teresa do Menino Jesus. A ilha da Madeira tem uma profunda veneração pela Madre Virgínia, “tanto que o povo já a canonizou antes mesmo da própria Igreja”, manifesta a religiosa. A sua vida, obra e milagres foram sendo conhecidas pelo povo que começou a procurá-la em busca de auxílio espiritual, entre os quais a família do Beato Carlos de Áustria, na altura exilado na Madeira. “Seria uma grande alegria e orgulho para todos os Madeirenses, pois seria a primeira filha da terra a ser canonizada”, sublinha a Irmã Otília. A devoção que o povo da Ilha da Madeira tem a Santa Teresa de Lisieux “deve-se também à Madre Virgínia”, lembra a Irmã Clarissa. Ao longo da vida da Madre Virgínia, muitos foram os manuscritos e cartas que foi escrevendo, onde se encontram relatados “os contactos que foi estabelecendo com Nossa Senhora a sua vida de oração” e o dinamismo que implementou nas pessoas que a rodearam, afirma a religiosa. Agora estes documentos estão a ser analisados e vão ser realizadas uma série de contactos com pessoas “que ainda privaram com a Madre, ou mesmo pessoas que indirectamente contactaram com ela”, esclarece a Irmã Otília, que já publicou algumas obras sobre a vida da Madre Virgínia. Após a morte da Madre Virgínia, em 1929, as últimas oito irmãs do extinto Mosteiro das Mercês, acompanhadas de duas candidatas, entraram no novo mosteiro a 16 de Abril de 1931, data que agora querem celebrar. “Ao longo de todo o ano esperámos a chegada deste documento, e fomos adiando a celebração dos 75 anos da fundação. Recebida agora esta alegria, é a altura ideal para a manifestarmos”, sublinha a religiosa. A abertura do Processo Diocesano inicia-se com a Eucaristia presidida pelo Sr. Bispo do Funchal, D. Teodoro de Faria, hoje às 16 horas, no Mosteiro da Caldeira, seguindo-se a constituição do Tribunal Eclesiástico. Estará também presente o Arcebispo de Évora “que tem uma grande veneração por ela, o provincial dos Franciscanos Capuchinhos e várias autoridades religiosas e civis da Ilha”, aponta a Irmão Otília. O processo vai ainda demorar a ser constituído O confessor da Madre Virgínia elaborou uma biografia, com dados “que não encontramos nos seus manuscritos”, sendo por isso um documento muito importante. Primeiro vai desenvolver-se o trabalho da Comissão de História, que tem “uma tarefa longa e extensa pela frente” de compilação e análise. Está também estabelecida uma comissão de Teólogos que vai analisar os manuscritos da Madre, dando depois um parecer e o Tribunal Eclesiástico.