Prisões: Trabalho da Igreja Católica «é tão ou mais importante do que qualquer abordagem técnica»

Diz diretor-geral dos Serviços Prisionais em Portugal

Fátima, Santarém, 15 fev 2016 (Ecclesia) – O 11.º encontro nacional da Pastoral Penitenciária de Portugal, que terminou este domingo em Fátima, sublinhou a importância do trabalho da Igreja Católica nesta área e de garantir mais condições para a reinserção dos reclusos na sociedade.

Em declarações para a Agência ECCLESIA, o diretor-geral dos Serviços Prisionais classificou o trabalho prestado por capelães, visitadores e voluntários como “uma lufada de ar fresco” para quem está “privado de liberdade e circunscrito a um espaço”.

Pessoas que levam “uma palavra de conforto, uma palavra humana que é tão ou mais importante do que qualquer abordagem técnica que se possa ter”, sublinhou Celso Manata.

Aquele responsável salientou ainda o papel da Igreja Católica na reinserção dos reclusos, reconhecendo que é preciso dar mais condições aos sacerdotes e leigos que trabalham nas cadeias, para que possam concretizar a sua missão de forma mais efetiva.

Em debate esteve a falta de espaços para a promoção de iniciativas pastorais, dentro das prisões, e a falta de guardas para assegurarem o acompanhamento dos reclusos, quando as atividades têm que ser feitas no exterior dos estabelecimentos.

Para o padre João Torres, da Pastoral Prisional de Braga, é urgente existir “uma articulação mais séria" entre aquilo que é o decreto-lei 252/2009, que regula a assistência religiosa nos estabelecimentos prisionais dependentes do Ministério da Justiça, e o que acontece na realidade.

“Não faz sentido que um estabelecimento prisional tenha lá pessoas detidas porque não cumpriram a lei e aqueles que recebem estes reclusos também não respeitam a lei”, apontou o sacerdote.

O diretor-geral dos Serviços Prisionais mostrou-se atento a este problema mas lembrou as dificuldades e restrições económicas do país, que não passaram ao lado da realidade das prisões, hoje sobrelotadas e com falta de recursos humanos.

“Todos compreenderão que isto tem que ser feito sem prejuízo da segurança, da ordem que deve existir e daquilo que a sociedade espera de nós. A vida não se regula por decreto, ele será implementado à medida das condições que existam, e isto é o que eu posso dizer de uma forma honesta mas esperançada”, apontou Celso Manata.

Sobre a questão da reinserção, o encontro nacional em Fátima pretendeu sensibilizar também a sociedade para que acolha de forma mais positiva aqueles que passam pelo sistema prisional e, tendo pago pelos seus crimes, querem retomar a sua vida.

“O primeiro desafio é o da sociedade, para que não seja tão vindicativa mas mais acolhedora em relação àqueles que saem das prisões, porque se fizermos uma boa reinserção social, uma boa prevenção, estamos a evitar a reincidência”, apontou o coordenador nacional da Pastoral Penitenciária de Portugal.

O padre João Gonçalves destacou ainda a boa “colaboração” que existe atualmente entre a Igreja Católica, os serviços prisionais, os voluntários e todas as pessoas que trabalham ligadas aos capelães”.

Uma versão corroborada por Hélder Sousa, chefe dos guardas do Estabelecimento Prisional Santa Cruz do Bispo, em Matosinhos, no Porto.

“Os capelães prisionais e visitadores são uma mais-valia. Se calhar sem a ajuda deles não se conseguiria fazer certos projetos e depois são pessoas externas aos serviços, que ganham muito mais facilmente a confiança dos reclusos e acabam por conversar muito mais com essas pessoas, minimizando alguns problemas que lá existem”, concluiu.

Inês Leitão (Área de Comunicação Pastoral Penitenciária) /JCP

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