Prisões: Padre João Torres pede gestão «mais eficiente e humana» e compromisso governativo para reinserção social

Responsável pelo projeto «Mais Natal Priscos», que desde 2015 já acolheu 70 reclusos, lamenta que iniciativas semelhantes de «inclusão social de reclusos» sejam «ainda exceções e não a regra»

Braga, 01 out 2024 (Ecclesia) – O padre João Torres, pároco de Priscos, na Arquidiocese de Braga, e responsável pelo projeto de reinserção social de reclusos ‘Mais Natal Priscos’, pede uma “gestão mais eficiente e humana” na reinserção social e um compromisso do governo.

“Apesar do potencial de projetos como o ‘Mais Natal Priscos’ para a reinserção social, muitas vezes falta um comprometimento real por parte das autoridades governamentais. A necessidade de aprovações de múltiplas instâncias, a complexidade dos procedimentos administrativos e a falta de coordenação entre os vários serviços e departamentos fazem com que muitos projetos como o ‘Presépio de Priscos’ não tenham o impacto desejado”, lamenta o responsável num comunicado enviado hoje à Agência ECCLESIA.

“É necessário, implementar mudanças que promovam uma gestão mais eficiente e humana, para melhorar significativamente a reinserção social e reduzir as taxas de reincidência, contribuindo para uma sociedade mais justa e inclusiva”, acrescenta.

O projeto ‘Mais Natal em Priscos’, lançado em 2015, permitiu acolher, ao longo dos nove anos, 70 reclusos que participaram da comunidade em projetos de construção e apoio logístico, reabilitando ano após ano, o local que acolhe, desde 2006, o Presépio Vivo de Priscos.

“A participação no presépio não só oferece aos reclusos uma oportunidade de contribuir para algo significativo, mas também funciona como uma forma de ressocialização que pode facilitar a sua reintegração após o cumprimento da pena. Este projeto demonstra o poder transformador da cultura e da comunidade em iniciativas de reabilitação social”, valoriza.

Foto: Agência ECCLESIA

O padre João Torres, coordenador para a assistência espiritual nos Estabelecimentos Prisionais de Braga e Guimarães, indica ser “vital” pensar a reintegração dos reclusos na sociedade, com benefícios para os mesmos – “adquirem experiência de trabalho, qualificações e novas habilidades, não só técnicas mas também sociais”, para o sistema prisional e para “a sociedade que acolhe a iniciativa como um exemplo de solidariedade e inclusão”.

“A reabilitação reduz a reincidência e apoia o regresso à vida ativa. A reincidência tem um custo enorme, tanto financeiro quanto social, e um sistema prisional mais eficaz pode poupar recursos públicos e promover mais segurança. Infelizmente, muitos saem da prisão sem qualquer tipo de qualificação ou suporte, o que aumenta as probabilidades de voltarem ao crime devido à falta de oportunidades”, reconhece.

O projeto ‘Mais Natal Priscos’ resulta da parceria da Paróquia de São Tiago de Priscos e a Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP), com o apoio do Município de Braga, na deslocação dos reclusos do Estabelecimento Prisional até Priscos; ‘Mais Natal Priscos’ foi um dos projetos vencedores dos Orçamentos Participativos de Braga em 2015 e 2016.

“A ideia nasceu como parte de um projeto de inclusão e humanização, oferecendo aos reclusos a oportunidade de colaborarem em atividades que envolvem a comunidade, criando laços de confiança e respeito mútuo. A coordenação, supervisão e acompanhamento do projeto é da responsabilidade da paróquia”, recorda o padre João Torres.

O responsável destaca o “impacto positivo” de iniciativas semelhantes que “promovam a inclusão social de reclusos” mas lamenta que estes esforços sejam “ainda exceções e não a regra”.

“Esta iniciativa tem sido amplamente elogiada pela sua capacidade de promover a inclusão social e oferecer uma nova oportunidade a estas pessoas, ajudando a quebrar estigmas e preconceitos que muitas vezes dificultam a reintegração dos reclusos na sociedade”, constata.

LS

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Agência ECCLESIA

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