Lisboa, 19 dez 2017 (Ecclesia) – A Associação de Proteção e Apoio ao Condenado – APAC presente em Portugal há cerca de três anos aposta na valorização humana da pessoa reclusa para que tenha as condições necessárias à sua recuperação e reintegração na sociedade.
“Acreditamos que é dentro do sistema, e como complementaridade, que é possível trazer essa mudança para os próprios reclusos. O sistema tem de existir para terem oportunidade de mudar e tem sido muito bom trabalhar com o próprio sistema que tem experiência e sabe as dificuldades que esta população traz”, afirma o presidente da direção da APAC Portugal.
Em declarações à Agência ECCLESIA, Duarte Fonseca explica que a associação, com pouco mais de três anos em Portugal, “está a dar os primeiros passos” e ainda não estão a “aplicar no todo a metodologia e a adaptação” que fizeram para o contexto cultural e legal nacional.
Em Portugal existem cerca de 14 mil reclusos que um dia vão voltar a viver em sociedade e o período de reclusão é desta forma aproveitado para ser um período de capacitação.
A Associação de Proteção e Apoio ao Condenado tem origem no Brasil onde existe há mais de 40 anos e assenta num processo de valorização humana fornecendo à pessoa reclusa as condições necessárias à sua recuperação e reintegração na sociedade.
Segundo Teresa Cardoso, da direção da APAC Portugal, os números apresentados eram “de tal forma revolucionários” que como cidadã sentiu-se “interpelada” a no “mínimo tentar perceber” se fazia sentido em Portugal e se se podia adaptar “de tal forma que os impostos, que o Estado, o serviço público seja mais eficaz para todos”.
No Brasil os estudos indicam que esta metodologia custa por pessoa reclusa um terço do que o sistema tradicional e que a taxa de reincidência é de 10 por cento, enquanto o sistema tradicional apresenta uma reincidência de 85%.
Duarte Fonseca assinala que as sessões no Estabelecimento Prisional de Alcoentre, duas horas de 15 em 15 dias, ao sábado, “não são simples discussões ou clube de leitura” mas uma mistura de várias metodologias e várias abordagens, com conversas, visualização de filmes, convidados.
“É proveitoso e útil porque retira do contexto da prisão. Tenta desenvolver o que se calhar tínhamos em falha ou estava esquecido, valores, direitos, deveres. Para mim é relembrar o que foi ensinado há um montão de tempo e a vida e por culpa minha fui pondo de parte”, disse um dos reclusos do Estabelecimento Prisional de Alcoentre.
A Agência ECCLESIA esteve presente numa sessão que convidou a refletir sobre o preconceito, a associação tem dois programas a decorrer em Alcoentre: ETIPAC de valorização humana, ética pessoal e o RI sobre relações humanas improváveis.
O voluntário Tiago Godinho considera que ajudam os reclusos a descobrir “a humanidade que existe em si e que está por baixo de talvez muitas camadas de anos que passaram, de muitas coisas difíceis, da culpa do crime, da alienação da sociedade.
“O objetivo do recluso é voltar à sociedade, temos recursos internos cada vez mais, a sociedade civil tem muitas mais fortes”, refere Piedade Rufino, adjunta para a Área do Tratamento Prisional e Cuidados de Saúde, que realçou a necessidade de aproveitar as “experiências de vida, saberes e conhecimentos” dos voluntários.
A Associação de Proteção e Apoio ao Condenado – APAC Portugal – quer reabilitar para inserir na sociedade e não haver reincidência dos reclusos e agora prepara-se para chegar ao Algarve e quer alargar a ação a mais estabelecimentos prisionais.
HM/CB