Primeira «Fazenda da Esperança» de Portugal apresentada na Guarda

Casa destinada a recuperar toxicodependentes e alcoólicos vai nascer em Maçal do Chão

A Fazenda da Esperança, instituição que tem por objectivo recuperar toxicodependentes e alcoólicos, que nasceu no Brasil em 1983, vai abrir a sua primeira casa em Portugal numa quinta de Maçal do Chão, no concelho de Celorico da Beira.

O padre José Manuel Martins, pároco de Celorico da Beira e presidente da Associação Fazenda da Esperança em Portugal, contou ao Jornal “A Guarda” que a instituição, que irá construir uma residência masculina, destinada a acolher utentes adolescentes, jovens e adultos, utiliza um método de tratamento “diferente em relação aos outros”. Explicou que a metodologia curativa assenta em três pilares: trabalho (não apenas como ocupação mas como auto-sustento, o que promove a auto-estima das pessoas), vida comunitária (vivem 12 a 14 pessoas, no máximo, em cada casa) e espiritualidade (embora seja espiritualidade cristã, a instituição está aberta a todas as religiões, ou mesmo a quem não tem religião nenhuma).

“O objectivo não é apenas recuperar da droga ou do álcool, mas levar os utentes a recuperar a liberdade e a esperança. Curá-los por dentro”, referiu o sacerdote, recordando que a Fazenda da Esperança nasceu no Brasil em 1983, fundada por um leigo, Nelson Rosendo, na altura com 21 anos, e por um frade franciscano alemão que trabalha naquele país. O Papa Bento XVI, que em 2007 visitou o Brasil, visitou a Fazenda da Esperança e deu um grande impulso à obra, tendo-se referido a ela no seu discurso final.

Aquele responsável explicou que a primeira casa da instituição em Portugal vai ser construída no concelho de Celorico da Beira “porque na origem está uma irmã, Alice Saraiva, natural de Freches (Trancoso), que conheceu a Fazenda em 2007 no Brasil”. “Veio tão entusiasmada que procurou arranjar alguém que desse uma quinta, que foi doada à Associação Fazenda da Esperança, por uma pessoa natural de Maçal do Chão, que é médica em Lisboa”, indicou José Manuel Martins.

Segundo o presidente da instituição, o projecto já foi aprovado pelo Bispo da Diocese da Guarda “e o que se exige é o envolvimento dos párocos para darem assistência espiritual”. Adiantou que o projecto de construção da primeira casa “está a ser elaborado e é oferta da Câmara Municipal de Celorico da Beira”. Explicou que a primeira casa, que representa um investimento da ordem dos 250 mil euros, “dará para 16 pessoas, sendo que no início 4 serão sacerdotes” e deverá começar a ser construída “no início da Primavera”.

Para o arranque do projecto, a Associação Fazenda da Esperança conta com o apoio da Ajuda à Igreja que Sofre da Alemanha, que contribui com cerca de 20% do valor total da obra. “O restante valor será de donativos a recolher daqui para a frente”, adiantou o padre José Manuel Martins.

Referiu que “o projecto é para Portugal e haverá intercâmbio entre as casas” já existentes. “Para aqui podem vir pessoas de outros países e os de cá, também podem ir para fora”, referiu o presidente da Associação em Portugal.

7,5 hectares

O projecto da Fazenda da Esperança vai desenvolver-se numa quinta agrícola com cerca de 7,5 hectares de terreno, e de acordo com o padre Carlos Helena, pároco de Maçal do Chão e presidente do Conselho Fiscal da Associação da Fazenda da Esperança em Portugal. No início, será construída apenas uma casa, mas o responsável referiu que o projecto será aumentado gradualmente, à medida das necessidades. Disse que está previsto que casa tenha uma capela mas “se forem construídas várias casas, vamos construir uma capela comum”.

A primeira casa a ser construída terá a configuração “tipo braços abertos, para acolher as pessoas”, explicou o sacerdote no terreno onde vai nascer o projecto.

Contou que é intenção dos responsáveis envolver o actual caseiro da quinta nas actividades que os futuros utentes vão desenvolver. “Como vão trabalhar na quinta. Precisamos dele para ensinar os jovens” nas actividades agrícolas, referiu.

Salientou que “um dos objectivos do projecto é criar beleza e harmonia”, por isso, os futuros utentes irão trabalhar na quinta e proceder à limpeza e arranjo de toda a área. “Têm é que ser auto-sustentáveis e produzir aquilo que for possível”, indicou, salientando que poderão produzir queijo, requeijão ou mel, por exemplo. As futuras actividades irão depender “das oportunidades de mercado e das capacidades que os jovens tiverem, porque tanto podem trabalhar na agricultura como no artesanato”, explicou ao Jornal “A Guarda”.

Carlos Helena também contou que a futura Fazenda da Esperança “não vai estar cercada”, dado que “as pessoas podem sair quando quiserem”. Durante a sua presença na quinta “não podem ter televisão nem telefone, não podem ter dinheiro, tabaco ou bebidas alcoólicas e a família só os pode visitar uma vez por mês e, nos primeiros 3 meses, só podem contactar com a família por carta”.

O local onde a Fazenda da Esperança vai instalar-se será visitado este fim-de-semana pelo padre Christian, responsável pelas Fazendas na Europa (Alemanha e Rússia), que estará acompanhado por 2 jovens que se recuperaram nas Fazendas da Esperança.

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