Presidente do Conselho Pontifício para a Família antecipa Encontro Mundial (repetição)

De passagem por Portugal, o cardeal Ennio Antonelli falou à ECCLESIA sobre 7.º Encontro Mundial das Famílias, que decorre em Milão, Itália, tendo como tema ‘A família: o trabalho e a festa’. Uma escolha considerada central em tempos de crise

Ecclesia – O Encontro de Milão tem como tema: A Família a Festa e o trabalho… o que vos levou a escolher este tema?

Cardeal Ennio Antonelli (EA) – É um tema muito atual porque a família o trabalho e a festa estão interligados, a família depende do trabalho, basta pensar que muitos jovens atrasam o seu matrimónio porque não têm trabalho. Também as necessidades e ritmos da família e as necessidades e ritmos do trabalho produtivo, se tornam muitas vezes difíceis de conciliar. Depois a festa surge como algo complementar ao trabalho, ainda que se note menos, importa saber que o homem não vive apenas do trabalho, também não vive só de pão, vive também de relações e relações gratuitas e que são um bem em si mesmas. Por exemplo a oração, os afetos familiares, a amizade, a solidariedade, os jogos, o desporto, a arte, o contacto com a natureza, a poesia, a música, a dança e tantas atividades e tantas relações gratuitas que são importantes para a vida das pessoas, para uma vida digna do homem.

Pensamos que hoje é importante acentuar estes três elementos. Basta pensar nisto, que também a festa como o trabalho condicionam muito o comportamento da família. Se a festa e o domingo são substituídos por tempo livre que é individual e móvel durante a semana, ao passo que a festa é comunitária, a festa ocorre num dia específico, é um fator de coesão, de união para a família e para a comunidade. Ao passo que o tempo livre individual se torna fator de desagregação, seja da família, seja da comunidade. É toda uma problemática para a qual queremos convidar a refletir, e quero acrescentar que o Encontro de Milão tem valor em si mesmo, são famílias de tantos países do mundo que se encontram, que trocam conhecimentos, que fazem amizades, que partilham experiências. Trata-se do Povo de Deus, da Igreja, que vive a sua unidade e a sua universalidade em torno do Papa.

 

E – Este não será apenas um momento de Igreja ou um encontro ‘ad intra’, mas, presumo pretenderá também colocar a família e os problemas que a condicionam, no centro do debate cultural e social dos nossos tempos?

EA – Os temas de per se, não são especificamente eclesiais. É certo que para os cristãos são temas importantes do ponto de vista da fé, mas são temas com valor humano que valem para todos. A família não é uma realidade especificamente eclesial, pertence a todas as tradições a todos os povos e antes de mais é importante refletir sobre o seu significado antropológico. E depois o trabalho que é uma realidade universal, e também a festa pois existem vários tipos de festa mas todos os povos tiveram sempre esta necessidade da festa, são valores antropológicos fundamentais. Não é por acaso que no início da Bíblia, no primeiro capítulo e início do segundo, se fala destes três valores como dons, como bênçãos dadas por Deus criador a Adão e Eva e a toda a humanidade.

 

E – A família é fundamental para a saúde e a coesão social…

EA – Sim para a coesão da sociedade para o desenvolvimento da sociedade, e direi que a família é insubstituível, existem hoje tantos dados estatísticos que confirmam esta intuição, esta experiência espontânea do senso comum da história humana. É fácil perceber que uma família dá à sociedade novos cidadãos, novos trabalhadores, novas pessoas humanas e não só, também as educam, enriquecem-nas, transmitem-lhes um património de valores éticos e de virtudes sociais, valores culturais… Basta pensar na própria língua, ela é transmitida na família, os valores religiosos… Então, direi que a família dá à sociedade novas pessoas, possibilita a renovação geracional, e transmite também o património moral e cultural da nação e do povo, isto é fundamental. E depois existem tantas outras funções que pertencem à família, mesmo no plano económico.

A família é, no âmbito económico, um amortecedor social quando falta o trabalho ou na criação e condução de pequenas empresas familiares que são o nervo da economia de muitos países.

 

E – Este momento de crise económica representa um perigo para a família, porém não poderá constituir também oportunidade para esta se centrar em realidades fundamentais e ultrapassar uma certa ambição pelo efémero que acontece nas épocas de maior crescimento económico?

EA – Os indicadores sociais revelam que à medida em que empobrece a qualidade das relações familiares, cresce também a necessidade de consumir coisas, e assim cresce também o endividamento das pessoas, das famílias e também do Estado. A crise económica também obriga a repensar este modelo de desenvolvimento, este estilo de vida… descobrindo o valor do relacionamento entre as pessoas, a importância da qualidade dessas relações, talvez cheguemos a um patamar de menor consumo. É certo que o nosso modelo económico assenta na máxima produção e no maior consumo, mas não há muito futuro nisto, é necessário repensá-lo e reequilibrar as coisas.

 

E – Esteve em Portugal para participar num Congresso da Família: também aqui neste país a família enfrente muitos desafios e necessita redescobrir a sua vocação…

EA – Se olharmos os indicadores sociais, também os jovens colocam a família no topo dos seus desejos e dos seus valores, uma família estável que depois não conseguem concretizar. Importa ver como ajudar a formação e a estabilidade destas famílias. A política, a economia, a cultura, deverão procurar caminhos que traduzam as preocupações profundas dos homens, mais do que impor modelos que são artifícios para estimular o desejo.

Repare que as pessoas que se dizem mais felizes são os casados que têm uma família normal, muito mais que os solteiros por exemplo, mas depois o que é propagandeado é o modelo dos solteiros, e muito mais que os separados, pensa-se que com o divórcio se resolvem os problemas ma não é assim, não é verdade, por vezes acabam é multiplicados.

HM

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