«Aumento significativo» de pessoas em situação de carência alimentar expõe insuficiências da política de austeridade, diz padre Lino Maia
Lisboa, 29 mai 2013 (Ecclesia) – O presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social (CNIS) diz que o “aumento significativo” de pessoas em situação de carência alimentar expõe as insuficiências da política de austeridade preconizada pelo Governo.
Em entrevista concedida hoje à Agência ECCLESIA, o padre Lino Maia confirma o resultado do inquérito do Banco Alimentar contra a Fome e da Universidade Católica, que revela que mais de 90 por cento dos utentes das IPSS recorrem a estas instituições para pedir alimentos e aponta para a necessidade de uma mudança de rumo no país.
Para aquele responsável, “é urgente que se mude a opção que tem sido seguida de austeridade, e passar para uma lógica de investimento na atividade económica e no desenvolvimento do emprego, com sobriedade”.
“Hoje já é tarde mas amanhã provavelmente será demasiado tarde”, realça o sacerdote, que defende também a implementação de medidas que promovam “a remuneração condigna”.
Das mais de duas mil pessoas inquiridas no estudo do Banco Alimentar contra a Fome, mais de metade estão inseridas em agregados familiares com um rendimento total “inferior ao salário mínimo nacional” e há ainda um número significativo de famílias que “auferem menos de 250 euros”.
Uma situação que tem consequências ao nível da capacidade de resposta às necessidades básicas – apenas 23 por cento dos utentes disseram ter “dinheiro para comprar comida até ao final do mês”.
O presidente da CNIS sublinha que as instituições sociais “estão a corresponder” aos pedidos de apoio das populações mais carenciadas e inclusivamente “estão a apoiar os próprios funcionários no acesso às refeições, porque muitos deles também não têm condições económicas”.
“Há mais pessoas que não recorrem às cantinas sociais, talvez por algum receio, alguma vergonha, alguma preservação da privacidade, e por isso é preciso encontrar mais soluções”, aponta o sacerdote, que recorda a importância das redes de proximidade e vizinhança.
“É preciso continuar a insistir no envolvimento da comunidade, que neste momento é que está a ser o suporte das famílias, não o Estado”, conclui.
Um inquérito desenvolvido pelo Banco Alimentar Contra a Fome e a Universidade Católica concluiu que 86 por cento dos utentes que recorrem atualmente a instituições sociais fazem-no sobretudo para resolver carências alimentares.
O estudo, publicado através da internet, abrangeu 2209 utentes provenientes de 242 entidades particulares de solidariedade social de todo o país, entre 2012 e este ano, e permitiu detetar “uma tendência para o aumento das carências ao nível dos hábitos alimentares”.
JCP