Presidente da CEP quer padres fora da política

D. Jorge Ortiga espera que os sacerdotes sejam fiéis à sua missão, acolhedores e menos sombrios

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga, defende que os “padres não têm que ir para cargos políticos”.

Em declarações à Agência ECCLESIA, à margem do VI Simpósio do Clero a decorrer em Fátima, o Arcebispo de Braga lembra que os “ministros de culto” são “inelegíveis” para cargos autárquicos.

Em tempo de campanhas eleitorais, o presidente da CEP deixa claro que “o campo da política pertence aos leigos”. “Falta uma presença da Igreja na Política, Economia, Educação”, admite.

Não apenas em “discursos inflamados”, mas também “em coerência”, realça D. Jorge Ortiga. A política é um espaço onde cada cristão deverá “viver o seu cristianismo”.

Para este responsável, o padre tem que “descobrir e concentrar-se na sua especificidade” porque “se tal não acontecer corre o perigo de esquecer o pilar da sua vida”.

O Arcebispo de Braga considera que os padres devem ser “estimuladores para que a Igreja seja uma verdadeira comunidade”. Não devem “andar a correr de actividade para actividade, mas delegar e confiar” nos elementos da comunidade.

No VI Simpósio do Clero de Portugal, a decorrer em Fátima até 4 de Setembro, estão cerca de 800 padres que “irão fazer uma rede de questionamento sobre a sua verdadeira identidade para o mundo de hoje”.

Esta iniciativa promovida pela Comissão Episcopal Vocações e Ministérios é subordinada ao tema «Reaviva o Dom que há em ti» e está integrada no Ano Sacerdotal. D. Jorge Ortiga pretende que os padres olhem para o “espírito que animou o Cura d´Ars”. “Há muita coisa na vida dele que pode inspirar os sacerdotes de hoje”. E reconhece: “Muitas vezes, a vida do padre é burocrática e demasiado feita de trabalhos, mas falta-lhe a capacidade de acolher as pessoas”.

A proximidade com as pessoas é uma exigência. Apesar de muitos deles terem mais de uma paróquia, o presidente da CEP pede-lhes que aproveitem os mais variados momentos do dia-a-dia para darem atenção às pessoas. A este respeito, cita exemplos: “Nos funerais, situações de dor, participações em casamentos”.

O sacerdote “não é o centro da Igreja”, mas “o motor da comunidade”. O perigo destas teorias ficarem apenas no papel não existe, segundo D. Jorge Ortiga: “O simpósio é uma aventura pessoal e para cada participante, todavia muitas interpelações foram colocadas e os efeitos aparecerão depois”.

Ao olhar para a Igreja em Portugal, o Arcebispo de Braga reconhece que alguns padres “são moralistas”, mas no cômputo geral as comunidades “são promotoras da alegria interior”. “Os padres devem ser festivos e deixarem as celebrações monocórdicas e sombrias”, pede.

Corrigir a ideia que a Igreja se resume à hierarquia é uma tarefa urgente. “Estive presente no acontecimento da Praia Maria Luísa (A queda da arriba em Albufeira que vitimou 5 pessoas, ndr) – não em termos de curiosidade, mas porque senti que poderia ser importante para as pessoas e os familiares delas”, relata D. Jorge Ortiga.

“Os cristãos podem ajudar na vertente psicológica e espiritual nestas situações, devem mergulhar na sociedade e dar o seu testemunho”, acrescenta.

Em tempos passados, a Igreja “tinha a presunção que era superior”. Hoje é fundamental que a Igreja “não se sinta por cima do mundo, mas mergulhe na sociedade”, conclui o presidente da CEP.

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