Arcebispo de Évora lamenta que Alentejo sejam «aldeias que são centros de dia de idosos» e pede aos governos que «dialoguem» com «pospostas independentes»

Évora, 26 dez 2025 (Ecclesia) – O arcebispo de Évora pede que os candidatos à Presidência da República sejam esclarecedores e que “saiam do teatro das questões pessoais” e se “preocupem em falar para as pessoas”.
“Há uma confusão. As pessoas não sabem em quem votar. É necessário que os nossos políticos sejam esclarecedores, que saiam do teatro das suas questões pessoais, que deixem de falar de si, de se defenderem e de se autopromoverem e que falem dos seus projetos, dos seus pontos de vista”, pede D. Francisco Senra Coelho em entrevista à Agência ECCLESIA.
“O presidente da República é eleito pela pessoa, tal como o presidente da Câmara conta mais a pessoa do que o partido que a apresenta. É necessário que os nossos candidatos falem para quem está do lado de lá e não para o diálogo interno, como está a acontecer muitas vezes, que no fim dizemos, não me esclareci nada, foi uma perca de tempo”, lamenta.
D. Senra Coelho reconhece as eleições presidenciais como uma “eleição não prioritária”: “O dia-a-dia faz-se no município, na junta de freguesia e no governo a nível nacional. É uma figura muito simbólica. Embora seja uma pessoa que marca imenso o país, no seu magistério, na sua docência e que nos importa ter como um fiel da balança”.
Não se tratando de uma “eleição marcada pela urgência”, o responsável antevê “um aumento de abstenção”.
O arcebispo de Évora pede que os candidatos ajudem a perceber-se como “mais-valias”, também as “diferenças de cada um”, para que as pessoas possam discernir.
D. Francisco Senra Coelho reconhece no povo português “sentido e intuição”, assinala que “não se deixa manipular” e encontra “maturidade” na população.
Convidado a olhar para os atos eleitorais que aconteceram em 2025, o responsável da arquidiocese de Évora fala em “votos de protesto” para reconhecer a subida de um partido “bastante radical” cujos resultados nas eleições autárquicas não se repetiram.
“Das eleições legislativas percebe-se com clareza uma atitude de protesto. O direcionar do voto para um determinado partido bastante radical, nós percebemos que as pessoas quiseram dizer que estamos cansados. Os políticos não fazem uma correspondência entre a sua palavra e os seus atos. Foi um voto de protesto. São os mesmos que fizeram o voto de protesto no pós 25 de Abril, face à situação que se vivia. Havia situações que magoavam o povo, a sua pobreza, a dureza da sua vida, não generalizo, mas em muitos casos efetiva”, traduz.
“As pessoas são livres quando votam e são estas pessoas livres que, ao votarem, mostram que não são clientela ou controlados, portanto não são pessoas dependentes, são pessoas que tiveram a liberdade de votar no outro lado, agora para gritar com firmeza, protestando, afirmando o mal que está a acontecer”.
O responsável sublinha que o interior do país “está a pagar caro o envelhecimento, despovoamento e desertificação” e pede uma “nova dinâmica política do governo” para criar condições de vida.
“A certa altura vivemos com idosos abandonados porque os jovens têm de viver e emigrar para outros locais”, apresenta.
O responsável fala em “aldeias que são centros de dia de idosos”, pessoas cuidadas por “serviços de apoio ao domicílio” cujos funcionários são “imigrantes brasileiros, europeus, ucranianos, até pessoas indianas”, porque “os jovens partem, porque não há infraestruturas de acolhimento”.
“Tudo isto gera um protesto”, indica.
D. Francisco Senra Coelho reconhece que a população, “ao evitar maiorias” quer que o governo “dialogue” e que a “esperança das propostas de independentes” entrem no diálogo.
PR/LS
