Presença Agostiniana na Diocese de Leiria-Fátima

A presença de Santo Agostinho no actual território da diocese de Leiria-Fátima está documentada nas várias instituições religiosas que seguiram a chamada regra de Santo Agostinho e no culto prestado ao Santo Padroeiro, em igrejas, ermidas e simples imagens. Santo Agostinho é padroeiro “igualmente principal” da diocese.

O Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho tinha uma vigararia em Leiria, que foi o embrião da diocese leiriense, criada, pelo Papa Paulo III, a 22 de Maio de 1545. O primeiro bispo da diocese leiriense, D. Frei Brás de Barros (1545-1556), apesar de não ser da ordem de Santo Agostinho, tinha sido reformador daquele mosteiro conim-bricense. O segundo bispo da diocese, D. Frei Gaspar do Casal (1557-1579), que pertencia à Ordem dos Religiosos Eremitas Mendicantes de Santo Agostinho, também chamados Eremitas Calçados ou Gracianos, mandou edificar um convento da sua Ordem, na cidade de Leiria, em Agosto de 1577.

O Convento de Santo Agostinho veio a ser extinto em 1834, continuando a igreja aberta ao culto. Depois da proclamação da República, em 1910, a igreja foi profanada, servindo de refeitório de um regimento militar, instalado no convento. Pela concordata entre Portugal e a Santa Sé, em 1940, a igreja foi entregue à Diocese, a 7 de Agosto de 1944, reabrindo ao culto no dia 28 de Agosto de 1945. Dez anos depois, no XVI Centenário do Nascimento de Santo Agostinho (354-1954), o Bispo D. José Alves Correia da Silva promoveu comemorações especiais, que decorreram de 1 a 8 de Maio de 1955.

A igreja, no decorrer das celebrações do 1.650º aniversário do nascimento do Santo, foi enri-quecida com uma colecção de 13 telas, evocativas das Confissões, da autoria da pintora Irene Gomes. O Convento do Bom Jesus, dos Agostinhos Descalços de Porto de Mós, foi fundado, com licença do bispo de Leiria, D. Pedro Vieira da Silva, por provisão do dia 19 de Outubro de 1874. O convento de Porto de Mós foi extinto em 1834.

Foi para a igreja do Bom Jesus que passou a sede da paróquia de S. Pedro de Porto de Mós, depois da demolição da igreja paroquial, em 1875, por ameaçar ruína. Nos anos sessenta do século XX, a Pia União da “Obra dos Santos Anjos”, fundada na Áustria, informou-se, junto da Sagrada Congregação dos Religiosos, “da possibilidade de fundar uma nova Ordem ou Congregação Religiosa, com espiritualidade própria, tendo os Anjos, não como finalidade, mas como protectores e auxiliares no caminho da santidade, como no caso do Anjo de Portugal, na vida dos Pastorinhos. Assim, a finalidade principal é a glória de Deus e salvação das almas, e, no seu centro, a Cruz e a Sagrada Eucaristia, fruto da mesma Cruz”. A Congregação aconselhou a estudar a possibilidade de se ligarem a uma Ordem antiga, em vias de extinção, ou a restaurar uma Ordem já extinta.

Descobriu-se que a Ordem dos Cónegos Regrantes de Santa Cruz de Coimbra, extinta pelo Governo Português, em 1834, podia ser canonicamente restaurada, pois um decreto pontifício de 1836, não reconhecendo a extinção estatal, nomeou um Prior Geral vitalício, que só faleceu em 1901. Como não haviam passado ainda cem anos, e sabendo a Pia União que a antiga diocese de Leiria era, na sua quase totalidade, da jurisdição da Ordem da Santa Cruz, pediu ao bispo de Leiria, D. Alberto Cosme do Amaral, para solicitar a restauração. O pedido foi apresentado em Roma, por D. João Pereira Venâncio, bispo emérito da mesma diocese, desde 1972, que confidenciou que pedira a resignação do bispado, para satisfazer o desejo antigo de passar o resto dos seus dias numa Ordem contemplativa.

Na Páscoa de 1977, foi publicado em Roma um decreto que dava licença para se começar um noviciado experimental e nomeava D. António Bull, Abade Primaz da Confederação dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, como Prior Geral da Ordem, até à sua restauração definitiva. A Ordem foi restaurada oficialmente no dia 29 de Maio de 1979. Por morte de D. António Bull, superior delegado, mas não membro da Ordem, a 12 de Outubro de 1982, D. João Pereira Venâncio foi nomeado Primeiro Superior Geral, pelo período de três anos, vindo a falecer a 2 de Agosto de 1985. A Ordem dos Cónegos Regrantes de Santa Cruz tem actualmente em Portugal três comunidades, nas dioceses de Braga, Évora e Leiria-Fátima. O ramo feminino, Sociedade das Irmãs de Santa Cruz, foi fundado em 1967, na Áustria, e entrou em Portugal em 1976. Está estabelecida nas dioceses de Braga e de Leiria-Fátima.

Passamos a elencar, por ordem cronológica, alguns sinais do culto e devoção a Santo Agostinho no actual território da diocese de Leiria-Fátima, a partir da documentação conhecida e da inventariação do património móvel diocesano, feita de 1993 a 2000: imagem de S. Agostinho, de pedra, atribuível ao século XVI, na capela de Santa Marta, da paróquia de Santa Eufémia (concelho de Leiria); dois frescos com as imagens de Santo Ambrósio e de Santo Agostinho, na antiga ermida de Nossa Senhora da Conceição, do lugar da Conceição, paróquia do Olival (concelho de Ourém), reedificada no ano de 1578; tela de Santo Agostinho, pintada por Amaro do Vale, entre 1605 e 1606, na Capela do Santíssimo Sacramento da Sé de Leiria, hoje guardada no Museu de Arte Sacra do Seminário Diocesano de Leiria; imagem de Santo Agostinho, atribuível aos séculos XVII-XVIII, na igreja de São João Baptista de Porto de Mós, talvez proveniente da igreja do antigo convento do Bom Jesus, da mesma vila; capela de S. Agostinho, existente, em 1758, no lugar da Charneca (actual Vilar dos Prazeres) da freguesia de Nossa Senhora das Misericórdias de Ourém, de que ainda subsistiam alguns vestígios, há poucos anos; imagem de Santo Agostinho, de madeira pintada, atribuível ao século XIX, na igreja paroquial dos Marrazes (concelho de Leiria); medalhão pintado, dos meados do século XIX, que representa um santo bispo com uma pena na mão, no coro da igreja paroquial do Juncal (concelho de Porto de Mós), identificado pela comissão do inventário do património móvel da diocese como sendo Santo Agostinho; “Hospital de Santo Agostinho”, instituído por testamento, em 1885, pelo Dr. Agostinho Albano de Almeida, médico de Aldeia da Cruz (depois Vila Nova de Ourém e actualmente, cidade de Ourém, freguesia de Nossa Senhora da Piedade), “em comemoração do seu nome”, fundado em Outubro de 1891. Desconhece-se se a diocese de Leiria teve padroeiro nomeado, desde a sua criação.

Em provisão de 30 de Março de 1955, anunciando as comemorações do XVI centenário do nascimento de Santo Agostinho, o Bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, escrevia: “Quando esta diocese foi restaurada, em 1918, tomou este grande Santo como seu Padroeiro”.

Esta escolha radicava, certamente, no facto, já referido, de Leiria ter sido uma vigararia do Mosteiro de Cónegos Regran-tes de Santa Cruz de Coimbra, da Ordem de Santo Agostinho, e à semelhança da diocese de Coimbra, que também o tem como padroeiro. Em Dezembro de 1962, o Bispo de Leiria, D. João Pereira Venân-cio, pedia à Sagrada Congregação dos Ritos ratificasse a escolha, então feita, de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, como “Padroeira Principal”, de São José, como “Padroeiro igualmente principal” e de Santo Agostinho, como Padroeiro Secundário” da Diocese.

Por decreto de 13 de Dezembro de 1962, a Congregação dos Ritos constituiu e confirmou Nossa Senhora do Rosário de Fátima como “Padroeira principal” e Santo Agostinho como “Padroeiro igualmente principal”. O breve “Miris modis” de João XXIII, tem a mesma data. Luciano Coelho Cristino Diocese de Leiria-Fátima

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