Preparação para a beatificação de Madre Rita

Eucaristia
Ribafeita, 7 de Janeiro de 2006

Acolhimento:

Ex.mo Rev.mo Sr. D. António:
Hoje esta nossa e sua paróquia de Nª Srª das Neves de Ribafeita saúda-o com todo o respeito, amor e carinho que lhe são merecidos.
Encontramo-nos em festa, não apenas no clima festivo próprio do tempo litúrgico que vivemos com o nascimento do Deus Menino, mas também pelo reconhecimento, por parte da Igreja, da obra, missão e humanidade de uma filha desta paróquia, Rita Lopes de Almeida.
Uma educadora que em tempos difíceis soube voltar-se para os mais pobres; soube voltar-se para os valores da família, que hoje em dia tanto faltam… e sempre, sempre em referência à Família de Jesus Maria e José.
Ex.mo Rev.mo Sr. D. António recebemo-lo da melhor maneira que sabemos: com amizade, alegria e um sorriso.
Que esta sua presença em terras de Madre Rita seja também um elixir para todos nós fiéis. Que esta sua presença nos lembre que somos chamados a ser Servidores da Alegria do Evangelho. Que esta presença nos torne mais unidos em Igreja, em igreja paroquial e em igreja diocesana.
Bem-haja vossa ex.cia Rev.ma por ter vindo participar do nosso júbilo e do nosso entusiasmo.

Homilia:
“Reveste-te de luz. A glória do Senhor brilhe sobre ti”. A primeira leitura do profeta Isaías. “Foi vista de novo uma estrela poisar sobre uma casa. Encontraram a alegria”. O evangelho que acabamos de ouvir. Estamos aqui reunidos em grande multidão para preparar o dia memorável em que todos teremos a alegria de participar na beatificação de uma mulher filha querida desta nossa terra de Ribafeita.
Neste ambiente de alegria saúdo a todos vós do mais fundo do meu coração. Saúdo com fraterno afecto o vosso querido pároco, o meu caro amigo padre Amadeu. Promotor desta celebração com que damos inicio à preparação do dia da beatificação e com ele saúdo os demais irmãos meus no sacerdócio.
Saúdo com cordial referência as excelentíssimas autoridades que quiseram dar-nos a honra da sua presença. O senhor presidente da Câmara, o senhor representante do senhor governador civil, senhor presidente da junta e demais membros da autarquia municipal e das autarquias locais. O meu muito obrigado pela vossa presença.
Saúdo com afecto a irmã provincial do instituto Jesus Maria José, que foi fundado por Madre Rita, com ela saúdo também a postuladora da causa de beatificação e as demais irmãs que quiseram hoje participar nesta celebração.
Permitireis também que dirija uma saudação aos que participaram na caminhada de lá de cima da igreja de onde foi a exposição até aqui, lançando confetis e papelinhos coloridos, em sinal da alegria. Meus caros amiguitos e amiguitas quero dizer-vos que o bispo é muito vosso amigo que tendes no coração do bispo um lugar especial e no coração de Jesus e agradecer também a vossa presença sempre tão simpática e tão alegre.
Agora vou falar para os mais velhos não entendereis tudo o que digo, mas pelo menos ficais a saber que o bispo falou convosco.
E agora se me permitis irmãos vamos fazer uma meditação deixando-nos iluminar pela Palavra de Deus que acabamos de ouvir.
Celebramos hoje a festa da Epifania, mais conhecida pela festa dos Reis. Fecha o ciclo das festas do Natal, do nascimento de Cristo, Filho de Deus feito homem. Se a festa do Natal é uma festa familiar, celebrar Cristo em família, hoje somos co0nvidados a contemplar a luz de Cristo na sua dimensão universal. Por isso a primeira leitura do profeta Isaías é um poema, um canto, um hino à luz que vem. À luz dos povos, é Cristo Luz.
“Levanta-te Jerusalém” quer dizer “levanta-te meu povo, reveste-te de luz porque a glória do Senhor já brilha sobre ti”. É um canto à luz de Cristo que erradia sobre o mundo inteiro e que atrai todos os corações. E com esta luz a certeza que entra uma nova esperança, uma nova vida no mundo. E por sua vez o evangelho narra-nos a história dos magos. O caminho daqueles que buscam, que seguem à busca de Jesus e o e encontram. Não é uma história para crianças, não é uma fábula, é um itinerário espiritual de todos a comunidade de gerações de homens e de mulheres que se puseram a caminho à busca de Jesus. Guiados por uma estrela.
Cada pessoa tem uma estrela na vida. Uma estrela no seu coração, uma estrela na sua consciência, uma estrela no seu caminho. Estrela que evoca a luz dessa noite que pronuncia o dia. Evoca o esplendor e a beleza do firmamento celeste, é o símbolo de todos aqueles que têm olhar contemplativo sobre a vida, sobre a realidade, sobre o mundo. E O descobrem todo mergulhado no mistério da Luz, e procuram o mistério dessa luz. E deixam-se guiar por essa estrela. Essa santa inquietação que Deus pôs no coração de cada homem e de cada mulher para o buscar.
Uma peregrinação, uma viagem, um caminho, por vezes tortuoso, passado na escuridão da noite, até de novo aparecer a estrela poisada na casa onde se encontra Jesus. Então resulta uma grande alegria, a alegria de quem encontra Jesus Cristo e o descobre e acolhe como o caminho, a verdade e a vida. Eis o itinerário dos magos, eis o nosso itinerário. E quem faz esta descoberta descobre então que está em sua casa. Entraram em sua casa e adoraram-n’O. É o Senhor que nos oferece a sua casa. É Ele que nos oferece a pátria, a casa do Pai. O nosso lar, a nossa família.
Os magos ofereceram o que traziam, o melhor de si mesmo, o ouro, o incenso e a mirra. O ouro na sua existência quer dizer a liberdade de o seguir com amor, respondendo fielmente ao seu chamamento. O incenso da oração ardente que aquece e dá alegria ao coração. A mirra do afecto de quem se entrega àquele que se entregou a nós e por nós. Eis a beleza da fé. Eis o mistério da Luz que resplandece em Jesus Cristo. Este mistério ilumina quem se quiser deixar iluminar por ele.
Este mistério de Luz acontece e realiza-se quando transfigura uma existência de uma pessoa, uma família, uma comunidade e então irradia para a sociedade e para o mundo e é aqui que podemos entender também a beleza e a irradiação da santidade de uma mulher conhecida como Madre Rita. Porque se deixou surpreender pelo encontro de Cristo. Porque deixou nascer no seu coração o encanto por Cristo, o seu amor era Cristo e em Cristo o seu coração tornou-se universal para poder olhar, com um novo olhar, este mundo que Deus ama, cada um dos homens e das mulheres sob os quais repousa o olhar de eleição de Deus. Por isso ela irradiou em si e através de si a santidade de Deus para o mundo do seu tempo.
Em coisas simples, em primeiro lugar queria que compreendêsseis que era uma mulher do povo, do vosso povo, igual a tantas mulheres de carne e osso, como vós hoje. Para dizer que a santidade de Deus é acessível a toda a gente, não é para elites, nem para super-heróis; é para homens e mulheres que vivem neste mundo, tal como ela. Não tinha títulos académicos nem sociais. Uma mulher do povo, que encontrou o seu encanto em Cristo e concretamente em Cristo presente na Eucaristia. O Senhor Jesus, tal como se deixou encontrar em Belém pelos magos representantes dos povos, deixa-se encontrar hoje, vivo, ressuscitado na Eucaristia. Cada Eucaristia é um encontro de amor com Cristo que enche o nosso coração de amor e de um amor universal. E por isso ela foi apóstola da Eucaristia. E com este amor que recebia da Eucaristia ela foi para o mundo do seu tempo.
(…)
Começou pelas crianças pobres e abandonadas, para elas fundou um colégio, para o seu crescimento humano e espiritual. Para a sua educação. E hoje, não existe, por ventura, na nossa sociedade uma orfandade de educação. Temos tantas crianças que são órfãs de educação. Temos muita instrução, mais que no tempo de Madre Rita, mas temos um grande défice de educação. Educação da inteligência e da educação do coração. Uma inteligência hoje cada vez mais frágil da realidade da vida e um coração também frágil nos seus afectos, nas usas relações, por isso ela é para nós também um exemplo e uma provocação, para vivermos de santidade no campo da educação.
Depois, distinguiu-se também na promoção da mulher. Procurando libertar a mulher da escravidão da prostituição, ainda hoje tão espalhada, por mero comércio a nível global. Uma degradação da imagem da mulher, daquilo que tem de mais belo, que são os seus sentimentos e os afectos e por isso ela distinguiu-se também na promoção da mulher.
Depois ainda no apoio à família, o apoio à família como primeira célula da sociedade, primeira escola de vida, do amor, da educação, da relação humana e hoje, de novo, se sente a necessidade deste apoio em condições naturalmente diversas das do seu tempo.
Podemos dizer, meus caros amigos e amigas, que esta mulher saiu do povo simples e humilde, foi, no seu tempo, uma profeta da modernidade, quer dizer, das causas que depois os tempos modernos assumiram como suas. Aquela que se dedicou aos humildes, aos humilhados, aos desprezados, aos marginalizados. Aquela que esteve presente, e se fez próxima, de tantas pessoas que não encontravam sentido para a sua vida, de tantas pessoas feridas pela vida e pela vida da própria sociedade.
Eis a santidade comum. A santidade não é nada de, como disse, extraordinário. Consiste em fazer com amor e por amor, aquilo que somos chamados a fazer todos os dias, muitas vezes por dever. Por isso a santidade é o nome da beleza espiritual da nossa vida. É outro nome de uma qualidade de vida espiritual. Falamos hoje muito em qualidade de vida, no sentido do conjunto de todas as condições que permitem o bem-estar das pessoas, das famílias, das associações. Mas temos que recordar também que não existe verdadeira qualidade de vida, sem uma qualidade de vida espiritual. É aquilo que dá alma e ânimo às pessoas e às famílias a partir de Deus.
Por tudo isto Madre Rita é reconhecida pela Igreja na sua santidade, uma santidade de um convite à santidade popular, de todo o povo, para todo o povo, acessível a todos, homens e mulheres, crianças, jovens, adultos, casados, solteiros e viúvos.
Ficamos então com o convite de vivermos a partir de hoje a preparação do coração e a preparação das comunidades cristãs para depois podermos celebrar em beleza e com toda a beleza espiritual a celebração da sua beatificação no dia 28 de Maio de 2006, se Deus quiser.
E termino então à maneira de síntese com o lema: “Caminhemos com Madre Rita, no seguimento de Cristo, hoje! Caminhemos com Madre Rita, no seguimento de Cristo, no mundo!”

Alocuções finais:
Antes da bênção final gostava de exprimir a minha alegria de poder ter celebrado convosco esta festa tão expressiva. Com uma comunidade que se vê espelhada numa das suas filhas, numa das suas filhas maiores, em que dela e através dela se irradia para o mundo beleza e amor da santidade de Deus.
Muito obrigado ao rev. Pároco e a todos aqueles e aquelas que prepararam esta celebração; muito obrigado pelas palavras acolhedoras com que me quiseram receber; obrigado às ex.mas autoridades pela solenidade que quiseram concluir esta celebração com a sua presença.
Mas hoje, o centro da atenção é o dia da Epifania da revelação do Senhor, o centro da atenção é para Cristo, Luz do mundo, Luz dos corações, Luz dos pobres e a sua bênção que invoco sobre vós.

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