Reconhecido trabalho em prol do diálogo intercultural e inter-religioso Rosário Farmhouse, directora do Serviço Jesuíta aos Refugiados-Portugal, é a vencedora da primeira edição do “Prémio Padre António Vieira”. O galardão reconhece o percurso da antropóloga em favor do diálogo intercultural e inter-religioso. Em declarações à Agência ECCLESIA, Rosário Farmhouse fala de “uma grande honra”, que ganha maior dimensão pela admiração que a premiada tem pelo Pe. António Vieira. O jesuíta que viveu no Séc. XVII, é reconhecido pelo seu trabalho desenvolvido em prol da defesa dos direitos humanos, do respeito pelas culturas e religiões e pela capacidade que teve, num século desafiante complexo, de diálogo intercultural e inter-religioso. Como antropóloga, o facto de receber um prémio relacionado com a interculturalidade “é o melhor prémio que poderia esperar”, acrescenta Rosário Farmhouse. Uma admiradora “profunda” da Companhia de Jesus, receber um prémio com o nome de um padre jesuíta “é uma honra redobrada”. Rosário Farmhouse é directora de uma instituição que desenvolve a sua acção sob a alçada da Congregação do próprio Pe. António Vieira, os Jesuítas. Este é um prémio que ajuda a fazer mais e melhor o trabalho já desenvolvido. O reconhecimento foi feito ao trabalho da directora do JRS, em Portugal, que o encaminha a toda a equipa que com ela trabalha. Rosário Farmhouse explica que o trabalho que desenvolve “só é possível realizá-lo pela equipa que está comigo”. Embora o prémio seja pessoal, “sinto que o reconhecimento é para todo o serviço”. Percurso intercultural Desde jovem que a atracção pela interculturalidade atraiu a antropóloga. Aos 19 anos, funda, em Santo António dos Cavaleiros, um Movimento para a associação e desenvolvimento intercultural. “Éramos cheios de boas ideias, mas também muito ocupados e acabou parada”, relembra. Na altura, o movimento reunia já as várias comunidades religiosas que residiam na freguesia, uma localidade intercultural, nomeadamente hindus, católicos, muçulmanos e outros que “em conjunto queriam trabalhar o diálogo e fazer actividades conjuntas”. A escolha do percurso escolar e mais tarde o percurso profissional que trilhou, são exemplos da importância que a interculturalidade e o respeito pela diferença assumem na vida da premiada. Rosário Farmhouse chama a atenção para a contínua necessidade de se falar da interculturalidade, em especial, no presente ano, consagrado como o ano Europeu do Diálogo Intercultural. A premiada aponta que o alicerce “é o respeito, e com ele vamos conseguir construir uma sociedade mais feliz e onde as pessoas se sentem bem”. Portugal, apesar de ser um país pequeno e cheio de limitações, “tem exemplos de diálogo intercultural e religioso e pode ainda potenciá-los”. Cada vez “mais somos comunidades interculturais, por isso, o futuro passa pela capacidade de dialogar, de congregar o que é de congregar, de aceitar o que é diferente e trabalhar para que todos se sintam parte integrante” Prémio Pe. António Vieira Esta é uma iniciativa do Centro Universitário Padre António Vieira, no âmbito das comemorações do quarto centenário do nascimento daquele sacerdote que se destacou pelo estabelecimento do diálogo inter religioso, entre outras matérias. A atribuição do prémio, no valor de 10 mil euros, foi divulgada no CUPAV pelo reitor da Universidade Católica Portuguesa e membro do júri, Manuel Braga da Cruz. “Rosário Farmhouse é uma pessoa que desde os primeiros anos da sua vida pós-académica se interessou pelo acolhimento, inserção e integração dos refugiados, particularmente os imigrantes do Leste vindos para Portugal e fê-lo com particular empenhamento, com carácter inovativo. Foi pioneira neste acolhimento e foi graças à sua intervenção e determinação que algumas iniciativas importantes respeitantes à integração dos imigrantes ocorreram em Portugal”, disse . “A actividade desenvolvida por Rosário Farmhouse em prol da integração de imigrantes provenientes de diferentes culturas e religiões, implica um espírito de diálogo intercultural e inter-religioso que actualiza uma dimensão essencial da personalidade e da acção do P. António Vieira”, considerou o júri. O prémio foi instituído por ocasião do IV Centenário do nascimento do P. António Vieira, que se assinala no próximo dia 6 de Fevereiro, pelo Centro Universitário P. António Vieira, o Círculo Vieira e o Instituto P. António Vieira, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. O júri, presidido pelo Provincial da Companhia de Jesus, Padre Nuno da Silva Gonçalves, era constituído por Diogo Pires Aurélio, Francisco Sarsfield Cabral, Guilherme Oliveira Martins e Manuel Braga da Cruz. A cerimónia de entrega do prémio está marcada para o Oceanário de Lisboa – Parque Expo, a 8 de Fevereiro de 2008, pelas 19h30. FOTO: Revista «Amar & Servir»