As invasões de gafanhotos são conhecidas desde os tempos da antiguidade, tanto que são descritas na Bíblia como pragas do Egipto. E a praga, infelizmente, continua a afligir ainda alguns países africanos. De facto, segundo as previsões da FAO, a organização alimentar da ONU, a população da África ocidental, que já padeceu nos anos passados com a seca que durou três anos, corre o risco de perder 40% das pastagens, 20% da colheita e 25% da produção total. Se daqui a um mês não houver nenhuma intervenção na luta contra os gafanhotos, será uma catástrofe para todos. Os gafanhotos já invadiram entre três e quatro milhões de hectares, e podem percorrer 200 Km por dia. Já foram infestados países como Senegal, Mauritânia, Mali e Níger. O país em piores condições é a Mauritânia, com mais de um milhão e meio de hectares praticamente inutilizáveis. No Mali, os insectos destruíram 440.000 toneladas de cereais, dos três milhões prontos para a colheita, que todos os anos é fonte de rendimento para uma população de cerca de 12 milhões de pessoas. Esta foi a pior infestação de gafanhotos do deserto em mais de 10 anos na África central e ocidental, e atingiu uma vasta área, desde a costa Atlântica até os países do interior, como o Chade. Os funcionários das organizações humanitárias acreditam que o Mali, Níger, Senegal, Mauritânia e Chade terão agora necessidade de grandes quantidades de ajudas alimentares, e que para 2005 se prevê uma nova invasão de gafanhotos, com ulteriores destruições para o cultivo. No Egipto, a situação não é melhor. O país foi invadido por esses insectos, provenientes da parte ocidental da África, depois de percorrerem cerca de 4 mil quilómetros. O Ministério da Agricultura tentou tranquilizar os ânimos, afirmando que os gafanhotos ainda não estão sexualmente maduros e que, portanto, não representam um perigo para as colheitas, mas mobilizou os seus funcionários em todo o país. As condições atmosféricas deste ano levaram milhões de gafanhotos provenientes do deserto a invadirem Mauritânia, Marrocos e Argélia. Pela primeira vez em décadas, os ventos conduziram-nos ao Chipre, Líbano e Turquia. O gafanhoto do deserto (como explica um documento da FAO de 18 de dezembro de 2003, que denunciava o aumento populacional deste insecto após o verão húmido e chuvoso), é um animal que modifica o seu comportamento e aspecto com as condições meteorológicas. Quando as chuvas determinam condições favoráveis, podem multiplicar-se e assumir um comportamento diverso.