Portugal: «Uma Igreja que não fala dos problemas das pessoas não pode esperar que os jovens se aproximem» – Filipe Moisés Francisco

Doutorando em Engenharia do Ambiente pede maior intervenção dos responsáveis católicos sobre questões sociais e políticas

Foto: RR/Henrique Cunha

Porto, 21 mar 2025 (Ecclesia) – Filipe Moisés Francisco, doutorando em Engenharia do Ambiente pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUCP), considera que a Igreja deve ser mais interveniente face às questões sociais e políticas do país.

“Acho mesmo fundamental que se fale dos problemas que as pessoas têm hoje, porque uma Igreja que não fala dos problemas das pessoas, voltada, única e exclusivamente para as questões da moral, e que se esquece que o dia-a-dia das pessoas vai muito além disso, as dificuldades das pessoas vão muito além disso, não pode esperar que os jovens se aproximem”, refere o convidado da entrevista semanal Ecclesia/Renascença, publicada e emitida aos domingos.

Na véspera do Dia Nacional do Estudante, Filipe Moisés Francisco, que se assume como católico praticante, refere que “a Pastoral Universitária atravessa os mesmos desafios que a Igreja atravessa em relação aos jovens”.

“Esta questão da proximidade da Igreja com os jovens tem de ser cultivada, deve ser cultivada. Deveriam ter-se aproveitado muito os frutos da JMJ. Não sei se estamos a chegar a esse ponto”, observa o doutorando da FEUP.

Para o jovem católico, é necessário seguir a liderança do Papa, que veio “trazer a centralidade do Evangelho para a vivência da fé”.

Eu acho que nós ainda não estamos a aproveitar suficientemente bem este período em que temos a graça, porque é mesmo uma graça, de termos o Papa Francisco”.

 

Para o entrevistado, falta aplicar em concreto a dinâmica “sinodal” e “pastoral” imprimida pelo atual pontificado, considerando que a Igreja “está a funcionar em várias velocidades”.

“Espero que os nossos padres e os nossos bispos façam o seu trabalho e, sobretudo, que se pronunciem mais sobre os problemas dos jovens. Eu não ouço os bispos a falarem dos problemas da habitação, dos problemas da precariedade”, adverte.

Para Filipe Moisés Francisco, a JMJ que Portugal recebeu em 2023 pode ser uma “oportunidade perdida”, caso se mantenha o que define como “estado de comodismo”.

“É uma pena quando não se ouve os jovens”, insiste.

O entrevistado lamenta os problemas que os estudantes enfrentam, para encontrar habitação, e considera preocupante a precariedade laboral entre os trabalhadores mais jovens.

“Se o nosso trabalho não for dignificado, se não for valorizado aquilo que nós fazemos, e se nós próprios não formos valorizados desse ponto de vista, continuaremos sempre a viver de forma precária e continuaremos sempre a alimentar este mercado”, observa.

O jovem católico assume ainda que a sucessão de crises políticas “é uma preocupação para o país no geral”, considerando que o atual cenário era “evitável”.

Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

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