Portugal: Última década consumou a «tragédia demográfica» e deu um «golpe de misericórdia» nos territórios de baixa densidade

Henrique da Costa Ferreira, da Comissão Diocesana Justiça e Paz de Bragança-Miranda, alerta para o perigo da «autodestruição demográfica»

Bragança, 24 ago 2021 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Diocesana Justiça e Paz de Bragança-Miranda afirmou que a última década consumou a “tragédia demográfica, que resulta de 14 “tendências” da evolução de movimentos populacionais no último século, e alerta para o perigo da «autodestruição demográfica».

Numa análise ao Censos 2021, Henrique da Costa Ferreira afirma que os dados divulgados “revelam um país em vias de autodestruição demográfica e, por via desta – ou por causa desta -, económica, social, cultural e, no fim, política pois deixará de haver país quando não houver território, população e cultura”.

“Na década de 2010-2020 inverteu-se não só um ciclo de crescimento demográfico reiniciado na década de 1970 (porque interrompido  aparentemente na década de 1960, com a Guerra Colonial e com o recrudescimento do ciclo de emigração)  com a perda de 214000 pessoas em relação a 2011, como também se deu o golpe de misericórdia em 90% dos territórios de baixa densidade”, escreve.

Num artigo de opinião publicado na Agência ECCLESIA, o presidente da Comissão Diocesana Justiça e Paz de Bragança-Miranda (CDJPBM) afirma que “a tragédia que qualquer estudioso da demografia adivinhava está a consumar-se”.

“Os portugueses, fruto de uma conjunção de fatores entre os quais as crises económicas, a instabilidade no emprego, as baixas remunerações, o desajustamento das sobrequalificações e o apelo capitalista-consumista e do Estado Social ao hedonismo, já não querem ter o sacrifício de criar filhos, arriscando facilmente deixar de existir como povo alienando o território a uma ocupação fácil”, adianta.

Henrique da Costa Ferreira insere a análise aos resultados do Censos 2021 em continuidade com os estudos que tem realizado desde 1993 “sobre as dinâmicas demográficas e educativas em Portugal”, com destaque para os “territórios do Interior do país.

“Deixou de fazer sentido usar o conceito de território litoral porque, pura e simplesmente, ele é uma falácia constituída por vários litorais que, no seu conjunto, não representarão mais que 30% da costa litoral. Já o Interior, vai sendo assumido como categoria sociológica que abarca 90% do território do país”, considera.

Para o presidente da CDJPBM, Portugal tem apenas “sete polos de atração demográfica” (Litoral Algarvio, Península de Setúbal, Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto, Bacia do Baixo Vouga, Área Metropolitana Bracarense e Área Metropolitana Leiriense).

Para contrariar diminuição demográfica na generalidade dos territórios de baixa densidade, Henrique da Costa Ferreira refere que se deveria ter apostado, nos anos 80, nas “comunidades com maior potencial”, nomeadamente “Coimbra-Figueira da Foz-Pombal; Caldas da Rainha-Torres Vedras; Vila Real – Lamego – Chaves; Viseu-Tondela- Mangualde;  Abrantes-Torres Novas-Entroncamento; Guarda-Covilhã-Castelo Branco;  Évora-Beja; e Bragança-Macedo de Cavaleiros-Mirandela”.

O presidente da CDJPBM lembra que aumenta a “tendência superconcentracionária na Área Metropolitana de Lisboa”, sobretudo por causa do “crescimento negativo” na Área Metropolitana do Porto, que “está em vias de deixar de ser polo de atração demográfica”.

Henrique da Costa Ferreira afirma que “não era difícil antever os dramas demográficos de Portugal”, uma situação que “é mesmo dramática”.

“Inspiremo-nos na solidariedade que Deus nos recomendou seguir e não deixemos que os outros tomem decisões por nós”, conclui o presidente da Comissão Diocesana Justiça e Paz de Bragança-Miranda, no artigo de publicado na Agência ECCLESIA.

PR

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Agência ECCLESIA

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