Portugal: «Temos de construir a nossa identidade de forma inclusiva e não defensiva» – D. Sérgio Dinis

Bispo da Diocese das Forças Armadas e das Forças de Segurança defendeu mais investimento no setor da Defesa e apontou a saudade, a universalidade e o acolhimento como valores da portugalidade

Foto agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 10 jun 2025 (Ecclesia) – O bispo da Diocese das Forças Armadas e das Forças de Segurança afirmou que é necessário mais investimento no setor da Defesa, lembrou que a paz é um direito e referiu-se à construção da identidade nacional “de forma inclusiva”.

“Temos de continuar a construir a nossa identidade de forma inclusiva e não defensiva”, afirmou D. Sérgio Dinis em entrevista à Agência ECCLESIA no contexto do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que hoje se assinala.

Para o bispo do Ordinariato Castrense de Portugal, a imigração coloca “grandes desafios” na atualidade portuguesa, que tem na universalidade e no acolhimento valores que definem a portugalidade.

Que nós saibamos afirmar os nossos valores, a nossa história, saibamos defender aquilo que são as nossas raízes, mas também, no diálogo, procuremos ser inclusivos e sermos capazes de acolher, na nossa própria identidade, aquilo que é a cultura, até a própria religiosidade, a espiritualidade de outros homens e mulheres que vêm até nós, que se encontram connosco”.

Para D. Sérgio Dinis, o tema da imigração “não deveria ser usado como arma de arremesso político”, antes “discutido politicamente” para cuidar a segurança e combater as redes que “procuram a exploração da fragilidade humana”, rejeitando também a “visão utilitária da pessoa humana” que defende o acolhimento de pessoas apenas pela “necessidade de mão de obra”.

“A pessoa tem direito a poder viver onde quiser, desde que também saiba respeitar as regras, saiba respeitar a própria cultura, saiba respeitar aquilo que é a norma, o Estado de Direito em que vivemos”, defendeu.

A respeito do 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, o bispo da Diocese das Forças Armadas e Forças de Segurança referiu-se aos valores que definem a portugalidade, centrados na “vocação para a universalidade, para o encontro”.

Portugal é um povo da saudade. É um povo da memória, mas ao mesmo tempo um povo que, vivendo da sua memória, do seu passado, das suas raízes, procura projetar o seu futuro”..

D. Sérgio Dinis evocou os Descobrimentos Portugueses, epopeia de um “povo aventureiro” que partiu ao encontro de novos povos e culturas, levando a fé e transmitindo valores, com um percurso histórico “marcado pela hospitalidade”.

“Somos influenciados por uma cultura que muitas vezes proporciona um certo individualismo e, por sua vez, um certo isolamento, mas eu acho que ainda continuamos a ser um povo aberto, acolhedor, que procura receber bem”, afirmou.

A entrevista ao bispo do Ordinariato Castrense de Portugal é emitida no programa Ecclesia desta terça-feira, na RTP2, pelas 13h20.

Ordinariato Castrense de Portugal

Foto agência ECCLESIA/MC

O Ordinariato Castrense de Portugal, também designado como Diocese das Forças Armadas e Forças de Segurança, tem como bispo diocesano D. Sérgio Dinis, nomeado pelo Papa Francisco em novembro de 2024 e, depois da ordenação episcopal no dia 26 de janeiro de 2025, tomou posse no dia 5 de fevereiro do mesmo ano.

“Quer no âmbito militar, quer mesmo no âmbito das forças de segurança, somos muito queridos”, disse D. Sérgio Dinis sobre uma diocese que “é muito particular” por não ter uma dimensão territorial, uma vez que se destina a “prestar assistência religiosa a todos os militares, a todos os polícias, e suas famílias”, abrangendo “todo o território nacional”.

O bispo do Ordinariato Castrense de Portugal disse que “há uma grande solicitação” para o acompanhamento “do ponto de vista espiritual, do ponto de vista humano, e muitas vezes até do ponto de vista psicológico”, valorizando a presença dos capelães no ambiente das academias militares e das Forças de Segurança e também a recente presença de polícias nos aeroportos nacionais, na gestão da fronteira aérea.

“Muitas vezes chegam pessoas que não podem entrar, ficam ali retidas 48 horas, às vezes mais, e a presença do capelão é muitas vezes pedida. E chegam pessoas, umas com fé, cristãos, ortodoxos, católicos, muçulmanos, muitas vezes a pedir a ajuda de um assistente espiritual, independentemente até do seu credo”, afirmou.

D. Sérgio Dinis disse que a assistência espiritual é inter-religiosa, salvaguardando o cumprimento pela Lei de Liberdade Religiosa, nomeadamente através da presença de um assistente espiritual ou religioso de uma determinada confissão religiosa, quando solicitada por algum militar ou força de segurança.

“Nós não podemos esquecer que, no último censo, 80%, a passar, se afirmaram católicos, mesmo que não tenham uma prática dominical. Obviamente que no âmbito das Forças Armadas e das Forças de Segurança, se calhar esse índice é ainda maior. Mas também há pessoas de outras confissões religiosas e aqueles que, porventura, não têm qualquer confissão religiosa”, indicou.

D. Sérgio Dinis comentou também a necessidade de mais investimentos no setor da Defesa Nacional, “não para fazer a guerra, mas para manter a paz”.

“Desde que não vá prejudicar o campo da saúde, o campo da educação, da assistência social, obviamente que temos de preparar-nos, quer para a segurança interna, quer para a segurança internacional”, afirmou.

O bispo da Diocese das Forças Armadas e Forças de Segurança disse que, nos últimos governos, “não houve grande investimento nas Forças Armadas e particularmente nas Forças de Segurança”, lembrando que é necessário dar aos profissionais do setor “melhores condições de trabalho, condições para a sua própria segurança, condições para o seu descanso, uma remuneração justa”.

Na entrevista à Agência ECCLESIA, D. Sérgio Dinis referiu-se ainda às situações de conflito no mundo e lembrou que “a paz é um dom, a paz é um direito” e, por isso, “não deveria ser negociada”, a não ser nas situações de guerra, onde a conquista da paz “tem de se fazer pela via do diálogo, pela via diplomática”.

“Para ter paz, não tenho que dar terras raras”, advertiu.

O bispo do Ordinariato Castrense de Portugal apontou para uma “cultura de paz, não de guerra” no âmbito das Forças Armadas e Forças de Segurança e disse que a presença dos capelães no meio militar e policial é promotora de uma “cultura de paz”.

PR

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