Portugal: Taxa de risco de pobreza atinge valor mais baixo desde 2015, mas ainda há dois milhões de pessoas em risco

Dados são divulgados num relatório lançado pela EAPN Portugal, no Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza

Lisboa, 17 out 2025 (Ecclesia) – A EAPN Portugal/Rede Europeia Anti Pobreza divulgou hoje um relatório que indica que a taxa de risco de pobreza ou exclusão social em Portugal registou no ano passado o valor mais baixo desde 2015.

“Em 2024, a taxa nacional de pobreza ou exclusão social fixou-se em 19,7%, atingindo cerca de 2 095 mil pessoas. Este valor representa não apenas uma diminuição face ao ano anterior (20,1%), mas também o nível mais baixo registado desde 2015”, pode ler-se no Relatório Pobreza e Exclusão Social 2025, enviado à Agência ECCLESIA.

Ainda assim, o documento aponta que “apesar do progresso consolidado em 2024, os dados evidenciam que mais de dois milhões de pessoas continuam em situação de pobreza ou exclusão social”.

“Este resultado sublinha a importância de políticas públicas continuadas e direcionadas, capazes de responder a desafios persistentes, como a precariedade laboral, o acesso à proteção social e a dificuldade em assegurar condições de vida dignas a segmentos significativos da população”, refere o texto.

A diretora nacional da EAPN Portugal, Maria José Vicente, destaca a importância de “políticas sólidas que atuem na prevenção das situações de pobreza, eliminem as suas causas estruturais e promovam o bem-comum”.

A pobreza não é só uma violação grave dos direitos humanos. Gera, também, um efeito negativo na economia e no desenvolvimento sustentado do país, acentuando as desigualdades e constituindo um travão ao progresso”, afirmou.

O relatório dá conta que “metade (49,3%) das pessoas adultas (18-64 anos) em situação de pobreza está empregada”, o que, para Maria José Vicente, “significa que ter trabalho não é suficiente para garantir um rendimento digno”.

Lançada no Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, a publicação revela que, em Portugal, 1,76 milhões de pessoas vivem com menos de 632 euros por mês e as mulheres continuam a ser a maioria (56%).

Além disso, uma em cada três pessoas (38%) em situação de pobreza vivem com rendimentos muito baixos, iguais ou inferiores a 422€ mensais, sendo os mais novos muito vulneráveis a este problema, com 40% das crianças pobres a viverem em agregados com estes rendimentos.

“É preocupante a forte exposição das crianças às situações de pobreza severa, o que compromete trajetórias de inclusão social e económica ao longo da vida”, assinala o relatório.

No que toca aos mais velhos, o relatório revela um agravamento significativo nas condições de vida, com os reformados a verem o seu risco aumentar 19,9%, as pessoas com 65 ou mais anos a registarem uma subida de 17,8%, e os muito idosos (75 ou mais anos) a enfrentarem um agravamento de 22,7%.

Em 2024, 22.3% dos reformados, 23.8% das pessoas com 65 anos ou mais e 26.5% dos idosos com 75 anos ou mais estavam em risco de Pobreza ou Exclusão Social.

Relativamente às desigualdades territoriais, os Açores permanecem como a região mais vulnerável do país, com 28,4% da população em risco de pobreza ou exclusão social e a Madeira apresenta 22,9%, valores muito acima da média nacional.

No continente, a Península de Setúbal destaca-se como a região mais vulnerável (21,8%), seguida pela Região Norte (21%); em contraste, a Grande Lisboa apresenta os melhores resultados (16,5%).

Segundo o relatório, o risco de pobreza seria de 21,4% caso não fossem considerados os rendimentos provenientes das prestações sociais associadas ao emprego, família, saúde e ao combate à pobreza e à exclusão social.

Embora a redução de 4,8 pontos percentuais resultante dessas transferências ser superior à observada no ano anterior, Portugal continua a ser o terceiro país da União Europeia com menor impacto das transferências sociais (excluindo pensões) na redução da pobreza.

Além disso, apenas metade das pessoas em situação de pobreza, entre os 18 e os 64 anos, recebem rendimentos de prestações sociais – uma proporção que só é menor em Espanha.

A publicação oferece uma análise detalhada da situação de risco de pobreza e exclusão social, com base nos dados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento (ICOR) de 2024.

O documento é apresentado esta manhã, durante o almoço-conferência “Comunicar a Pobreza com Dignidade: Jornalismo como Agente de Mudança”, organizado pela EAPN Portugal, no Bessa Hotel Baixa (Porto) às 12h15.

LJ/OC

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