Paulo Valente da Cruz destaca importância de celebrar Dia Mundial dos Pobres

Setúbal, 14 nov 2025 (Ecclesia) – O presidente da Cáritas Diocesana de Setúbal alertou, em entrevista à Agência ECCLESIA, para a “porta giratória” da pobreza e da exclusão, pedindo respostas em áreas como a saúde mental e a habitação.
“Há pessoas que já não devem ser tratadas como uma pessoa sem-abrigo. Têm de ser tratadas como um problema de saúde mental, de toxicodependência ou alcoólico”, indica Paulo Valente da Cruz, defendendo equipamentos específicos para estes casos.
Questionado sobre o futuro, o presidente da Cáritas sadina manifestou o desejo de romper o ciclo de regressos sucessivos às respostas de emergência.
“O meu sonho é não haver a porta giratória. É um dia baterem aqui à porta e dizerem: eu já estou a trabalhar, tenho a minha vida e a minha casa”, precisou.
Numa conversa a propósito do Dia Mundial dos Pobres, que a Igreja Católica celebra este domingo, o responsável considerou “fundamental” o apelo dos Papas para que as comunidades não ignorem quem vive em fragilidade.
“Esta franja de pessoas que existe na sociedade passa, muitas vezes, ao lado das pessoas no seu ritmo diário”, assinalou.
Comentando a expressão “ódio aos pobres”, usada por Francisco, o presidente da Cáritas Diocesana de Setúbal afirmou que se trata de “uma análise concreta de um determinado discurso que entra na sociedade” e de “um alerta profundo a todo o mundo que esta realidade existe e que não pode passar ao lado”.
“O que eu acho muito estranho é que as pessoas ainda não perceberam que qualquer um de nós, um dia, pode entrar numa fragilidade dessa natureza”, sublinhou, recordando situações de pessoas com profissões estáveis que “vieram parar à rua” por ruturas familiares, desemprego ou endividamento.
O entrevistado respondeu ainda às críticas, segundo as quais a caridade perpetua a pobreza, sublinhando que a missão da Cáritas passa pela autonomização. “
“Nós temos de inovar na ajuda. Temos de fazer uma diferença na ajuda, temos de dar mais dignidade quando ajudamos”, insistiu.
Na instituição diocesana, essa mudança concretiza-se em medidas como a substituição das filas de refeições por cartões de compras.
“Hoje, depois de bem identificadas pelos nossos técnicos as famílias que podem fazer comida em casa, é atribuído um cartão de supermercado para a pessoa ir buscar os alimentos e fazer a sua própria comida”, explicou Paulo Valente da Cruz.

O responsável assinalou que o trabalho da Cáritas Diocesana de Setúbal é hoje uma resposta de emergência aberta a todo o país e além-fronteiras.
Em 2022 foram servidas cerca de 100 mil refeições, em 2023 cerca de 135 mil e, em 2024, 155 mil refeições, num montante de mais de 650 mil euros, números que ilustram uma “realidade em crescimento”.
A crise da habitação é, para o dirigente, o fator que mais penaliza a classe média e empurra novas famílias para a ajuda social.
Muitas pessoas tentam “mitigar” o orçamento com apoio alimentar ou no pagamento da água e da luz, para poder fazer face à renda da casa.
O Dia Mundial dos Pobres foi instituído pelo Papa Francisco no encerramento do Jubileu da Misericórdia, em 2016, e celebrou-se pela primeira vez no ano seguinte; na sua nona edição, insere-se nas celebrações do Jubileu dos Pobres do Ano Santo 2025, entre esta sexta-feira e domingo.
O programa ‘70×7’, com emissão domingo às 17h30 na RTP2, vai destacar testemunhos de superação, abordando também as respostas da Cáritas Diocesana de Setúbal a situações de fragilidade.
OC
