Isabel Galriça Neto contesta «pressa» na legalização da eutanásia e diz que há soluções para evitar «sofrimento destrutivo ou intolerável»
Lisboa, 20 dez 2019 (Ecclesia) – Isabel Galriça Neto, médica e ex-deputada, afirmou que a prioridade política deve ser a oferta generalizada de cuidados paliativos, em vez da legalização da eutanásia, alertando para uma possível “pressão social” sobre as pessoas em situação de maior fragilidade.
“Eu sou a primeira a dizer que ninguém deve estar em sofrimento destrutivo ou intolerável, mas é isso que fazem os cuidados paliativos, portanto vamos torná-los acessíveis aos 70 % de portugueses que não os têm”, indica, na entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença.
A especialista fala da sua experiência como profissional de saúde, na área dos cuidados paliativos, da relação com o sofrimento e dos perigos de uma discussão “emocional”.
“Infelizmente continua a ser preciso clarificar de que é que falamos quando falamos de cuidados paliativos. Estamos a falar, em primeiro lugar, de cuidados de saúde. Não são caridade, com todo o mérito que isso possa ter, não são cuidados de apoio social, são cuidados de saúde e são uma área de especialização”, observa Isabel Galriça Neto.
A médica sublinha que o alvo é a “intervenção no sofrimento” e no cuidar, recordando que hoje “muitas doenças não se curam, as pessoas convivem com elas durante um período muito prolongado”.
O que ninguém quer é que o sofrimento se torne disruptivo e destrutivo, que se torne qualquer coisa que é um fardo pesadíssimo. Nos cuidados paliativos isso não existe. Não quero cair na demagogia de dizer ‘os paliativos acabam com o sofrimento’, o que digo, à luz daquilo que é evidência, é que os paliativos intervêm ativamente no sofrimento, em muitos casos fazendo com que ele desapareça, noutros trazendo-o para níveis toleráveis”.
A antiga deputada do CDS contesta a “pressa” com que se apresentam projetos de legalização da eutanásia, rejeitando a ideia de que a prática seja aplicada como “medida de exceção”, tendo em conta o que já acontece nos países onde ela foi implementada.
“Não é disto que precisam as pessoas doentes do meu país, nem as suas famílias, e porque quando não garantimos o básico e estamos a dar uma medida destas, de alguma forma estamos a condicionar a liberdade das pessoas”, adverte.
Galriça Neto insiste que “não há ninguém interessado em ver doentes em sofrimento inútil e desnecessário”, desejando que a sociedade civil se faça ouvir para que sejam criadas alternativas á “morte provocada”.
Em março, Portugal vai acolher uma conferência sobre cuidados paliativos, que conta com a organização da Academia Pontifícia para a Vida, do Vaticano.
“O que a Igreja está a dizer é que quer que as pessoas não estejam em sofrimento e recebam os cuidados que devem receber”, explica a entrevistada.
OC