Portugal: «Ressurgir – 40 perguntas sobre a pandemia», uma crise sanitária, económica e social «com problemas de desigualdade»

Autores e reflexões de diversas áreas procuram «responder» à «violência» que se abateu na sociedade

Lisboa, 10 jun 2020 (Ecclesia) – O professor universitário Mendo Castro Henriques disse em entrevista à Agência ECCLESIA que o livro ‘Ressurgir – 40 perguntas sobre a pandemia’ Covid-19 pretende “refletir e partilhar reflexões” sobre a “calamidade” que começou como “crise sanitária” e está a transformar-se “em crise económica e em crise social, com problemas de desigualdade”.

“As desigualdades não vêm de agora, mas o coronavírus foi uma gota de água que fez transbordar um conjunto de problemas que já existiam”, assinalou o docente da Universidade Católica Portuguesa.

Em declarações à Agência ECCLESIA, Mendo Castro Henriques afirmou que o “bom senso”, a “prudência”, do povo português em relação à Covid-19 funcionou, mas “abateu-se uma violência” com as medidas de lay-off, o desemprego, a falência de pequenas e médias empresas.

“A nossa partilha começou aí: Como é que vamos responder a essa violência”, acrescenta sobre o livro ‘Ressurgir – 40 perguntas sobre a pandemia’ (Edições Paulinas), que partilha reflexões de pessoas de áreas científicas, académicas, literárias e da sociedade em geral “sobre a calamidade” do novo coronavírus.

“Os números oficiais mostram-nos que apesar de tudo a sociedade portuguesa teve uma consciência muito grande dos perigos de saúde e entendeu, apesar das dificuldades que causou a uma boa parte da população, que o confinamento era a mais razoável das situações. Mesmo antes de ser declarado o Estado de Emergência as famílias perceberam que se tinham de proteger”, desenvolveu o entrevistado no Programa ECCLESIA (RTP2) desta terça-feira.

O professor universitário Mendo Castro Henriques explica que “quase” metade do livro incide na área económica e “há um grande foco na nova economia”, mas na atual situação “tudo ainda está por decidir” e quiseram chamar a atenção que “ao contrário da crise de 2008 não havia instrumentos da própria ciência económica disponíveis para dizer como os governos respondem”.

“Temos que mudar a nossa apreciação sobre quem é que cria valor, e quem cria valor somos todos, em devida medida, se formos organizados”, acrescentou o investigador, assinalando que atualmente “há mais instrumentos” para as entidades responsáveis atuarem e “foram mais divulgados” para terem uma resposta e um paradigma de resposta diferente.

Segundo o doutor em Filosofia Política, a primeira conclusão do livro é necessária “outra globalização”, porque “o primeiro reflexo foi cada um por si próprio”, a União Europeia (UE) “ameaçou isso” e a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou que “houve grandes problemas de transmissão de conhecimento, nomeadamente por parte da República da China”.

Foto: Lusa/EPA

Mendo Castro Henriques considera que o ‘novo normal’, pós-pandemia Covid-19, vai ser “variável de país para país e até de região para região”, porque vai depender do comportamento das pessoas, mas sublinha que “mais importante” do que a “coerção do Estado de Emergência”, decretado a 18 de março, ao todo 45 dias, “foi a consciência que as pessoas tiveram que era prudente ficar em casa”.

No livro ‘Ressurgir – 40 perguntas sobre a pandemia’ há um capítulo dedicado à ‘ciência, informação e cultura’ e o professor universitário assinala que o papel da informação vai ser, “cada vez mais, decisivo em mostrar e mobilizar as pessoas para terem o comportamento económico “para o seu próprio bem e para o bem comum”.

Uma publicação interdisciplinar que reflete sobre as repercussões pessoais e familiares da pandemia, que dedica o último capítulo à espiritualidade e “um bom exemplo” que analisaram foi o “acontecimento transcendente, nem parecia televisão, era a história a acontecer” do Papa Francisco “sozinho, no meio da Praça de São Pedro”, a 27 de março, numa celebração extraordinária de oração.

Com 40 perguntas, a nova publicação, que chega às bancas nas próximas semanas, começa com a interrogação “como é que tudo começou?”, que, segundo o professor universitário Mendo Castro Henriques, “talvez seja uma das perguntas que não pode ser já respondida”.

PR/CB/OC

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Agência ECCLESIA

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