«Políticos não podem alegar desconhecimento», realça o organismo
Lisboa, 17 out 2015 (Ecclesia) – A Rede Anti Pobreza (EAPN) em Portugal exigiu “uma estratégia nacional” para a “erradicação” de um problema que, segundo as últimas estatísticas, ameaça atualmente 2,8 milhões de pessoas, 30 por cento da população do país.
Numa mensagem enviada à Agência ECCLESIA, no contexto do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que se celebra hoje, o organismo sublinha “a urgência de travar este flagelo” e chama à responsabilidade o setor político, “que não pode, de forma nenhuma, alegar desconhecimento para a falta de ação”.
“Se olharmos apenas para os números, sabendo que é preciso ir muito para além deles, ficaremos assustados com as crianças que, em Portugal, se encontram em risco de pobreza e ou exclusão social; e ficamos igualmente assustados com os números da emigração e com os números do desemprego jovem”, realça a organização.
De acordo com os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística, cerca de 2 milhões e oitocentos mil portugueses convivem hoje com o risco de pobreza ou de exclusão social.
A EAPN Portugal recorda a situação das “novas gerações”, que “não vislumbram oportunidades no país”, dos “adultos em idade ativa” que se debatem com “elevadas taxas de desemprego”, e “o número de trabalhadores pobres” que é hoje “surpreendentemente alto”.
O organismo presidido pelo padre Jardim Moreira aponta também o drama do “índice envelhecimento” da população portuguesa, que “é elevadíssimo”, sendo que as previsões para o futuro são “muito pouco animadoras”.
“Este é o retrato breve do país real!”, alerta a EAPN, que desafia os portugueses, sobretudo os mais pobres, para no próximo domingo e “em todos os dias, levantarem incansavelmente a voz” contra a desigualdade e a injustiça que marca a sociedade.
“A pobreza não é um problema de escassez de recursos. Se evitarmos a ganância e o desperdício e partilharmos o que temos de forma equitativa e sustentável, através de uma distribuição mais justa, é possível erradicar a pobreza! Não se trata de utopia, trata-se de encarar o problema de uma outra forma”, acrescenta a organização.
Instituído em 1987 pela Organização das Nações Unidas, o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza está este ano enquadrado pelo esforço da ONU em adotar uma nova agenda mundial para o desenvolvimento sustentável até 2030.
O evento acontece também num contexto de “crise humanitária, na sequência de guerras e conflitos” que têm como face “mais visível uma enorme vaga de refugiados”.
“A incerteza na tomada de decisão por parte dos líderes europeus face a este fenómeno, as consequentes manifestações xenófobas que se vão registando um pouco por toda a Europa, questionando a indispensável solidariedade no seio da União Europeia, levam-nos a temer um futuro de forte instabilidade e desesperança”, conclui a EAPN Portugal.
O Papa associou-se esta quarta-feira no Vaticano ao Dia Mundial para a Erradicação da Miséria, que se celebra a 17 de outubro, e defendeu os direitos “fundamentais” de todos os seres humanos.
“Este dia propõe-se aumentar os esforços para eliminar a pobreza extrema e a discriminação, assegurando que cada um possa exercitar plenamente os seus direitos fundamentais”, disse Francisco.
JCP