Manuel Lemos, reconduzido no cargo, alerta para persistência da pobreza e teme pela sustentabilidade do setor social
Porto, 17 dez 2023 (Ecclesia) – O presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) defendeu o alargamento da rede de cuidados continuados, como forma de aliviar os problemas na saúde e os desafios colocados pelos internamentos sociais.
“Nós precisamos de uma rede de cuidados continuados”, indica Manuel Lemos, convidado da entrevista conjunta Ecclesia/Renascença, publicada e emitida aos domingos.
O responsável adverte que muitas instituições que abriram as portas para libertar vagas hospitalares “não querem mais”, porque receberam pessoas com outras patologias, para as quais não estavam preparadas.
“Para a rede de cuidados continuados iriam as pessoas com outras comorbilidades, que continuam a existir após a alta”, detalha, destacando que essa opção “resolveria” os problemas indicados.
Questionado sobre a estratégia nacional definida este ano para o combate à pobreza, o presidente da UMP responde que deveria “ter havido muito mais conversa e muito mais reflexão”.
“A pobreza em Portugal é um fenómeno estrutural, não é um fenómeno conjuntural”, precisa, mostrando-se preocupado com as pessoas com emprego que estão na pobreza.
“O envelhecimento e a situação dos idosos são preocupantes. É muitíssimo preocupante”, acrescenta.
Manuel Lemos foi reeleito para a presidência da UMP, para o quadriénio 2024/2027, destacando a “identidade própria” das Misericórdias, que passa “pela defesa intransigente dos valores, pela definição de linhas vermelhas”.
O responsável, que aponta este como o seu último mandato, espera um “diálogo construtivo, num Estado que é pobre e em que o setor social não é muito bem tratado”.
“Ninguém aguenta eternamente uma degradação contínua, e por isso as Misericórdias e o setor todo passam dificuldades”, lamenta.
O presidente da UMP espera que, das próximas legislativas, em março de 2024, saia um cenário de estabilidade política, mostrando-se disponível para dialogar com qualquer executivo.
“Antes da sustentabilidade, nós temos de ter previsibilidade”, observa.
Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)